A CPMI do Golpe apontará Bolsonaro como o grande idealizador das ações de 8 de janeiro
Havia passado uma semana da mais bela e significativa posse presidencial, a de Lula. Era 8 de janeiro, e assistimos estarrecidos cenas que dariam inveja aos roteiristas de The Walking Dead. Chegava ao ápice os atos golpistas. A insanidade e a barbárie em seu sentido mais estrito tomaram conta da Praça dos Três Poderes. Às 15h, apoiadores do derrotado Bolsonaro iniciavam a invasão.
Bastou poucas horas para que o patrimônio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) fosse vandalizado e destruído. Nem mesmo as obras de arte de Di Cavalcanti, de Victor Brecheret e de Athos Bulcão foram poupadas.
Um dia depois, propus a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar e apurar aqueles que lideraram e financiaram o que já classificávamos como uma tentativa de golpe nos moldes do Capitólio.
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Todavia, o governo federal e a base governista avaliaram que as investigações sob comando do STF, da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República e das demais instituições de Justiça seriam suficientes para esclarecer as responsabilidades. Havia outras prioridades naquele momento, como a aprovação do Bolsa Família, já que a gestão anterior havia deixado 33 milhões de cidadãos em situação de insegurança alimentar.
Vamos ao embate
Com a insistência da oposição em instalar esta CPMI, sobretudo após a veiculação das imagens do general Gonçalves Dias, resolvemos ir ao embate, pois não poderíamos deixar que se criassem mais narrativas absurdas sobre o acontecido. Sabemos bem que o 8 de janeiro foi um processo que culminou numa data fatídica.
De nada adiantará a extrema-direita querer culpabilizar a principal vítima, que é o governo Lula. Se fizermos uma sequência cronológica desse processo veremos que há anos Bolsonaro e influenciadores extremistas têm incutido na cabeça de parte da população ameaças imaginárias, como a “comunista” e a tal “globalista”.
Já faz tempo que, por meio das fake news, a exemplo do kit gay e da mamadeira de piroca, se espalham o terror moral. Nem é de hoje que Bolsonaro flerta com o golpe e insufla seus seguidores contra as instituições democráticas, como em 24 de julho de 2022, durante convenção do Partido Liberal, que ele conclamou seus apoiadores a “irem às ruas pela última vez”, com o coro repetido “juro dar minha vida pela minha liberdade”. Minha comparação, nas primeiras linhas, aos zumbis de The Walking Dead, se deve, sobretudo, a essa “lobotomização” radical que já se iniciou no golpe contra Dilma.
Durante a CPMI do golpe, vamos rememorar a reunião do então chefe do Executivo com os embaixadores para colocar em cheque o TSE e as urnas eletrônicas, dizendo que não acataria um resultado diferente da sua vitória. Analisaremos as concentrações em frente aos quartéis sem uma palavra do ainda presidente para o restabelecimento da ordem pública.
O envolvimento da trupe bolsonarista, que ocupava cargos no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) também será escrutinado. Certamente, teremos acesso aos sigilos quebrados de Bolsonaro e vamos descobrir pelos e-mails, mensagens e telefonemas, as tramas com o detentor da minuta do golpe Anderson Torres e seu ajudante de ordens Mauro Cid.
Não tenhamos dúvida: a extrema-direita, que tanto insistiu para criar a comissão, deu um tiro no próprio pé. Haverá uma ampla investigação sobre os crimes que eles próprios cometeram. Nem adianta tentar inverter os fatos. Assim como a Terra é redonda, a história já evidencia e sempre mostrará que Bolsonaro é o mentor/idealizador dos atos golpistas. A CPMI do Golpe terá um desfecho em que a grande vencedora será a democracia.
Rogério Correia é deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores e vice-líder do governo Lula na Câmara de Deputados.
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Larissa Costa