Na tessitura ardilosa, o racismo se reinventa.
Um marco na luta antirracista global, o posicionamento do jogador Vinícius Jr. sintetiza o espírito do nosso tempo de seguir fileira na luta permanente contra o racismo.
A luta antirracista ganha relevo no mês de maio no Brasil e tomou contorno global com a voz do jogador Vini Jr. ao reagir aos insultos racistas que sofreu em partida na Espanha, no dia 21.
Maio marca a luta antirracista não exatamente pela efeméride do 13 de maio, dia da mal-acabada abolição da escravatura, mas por nossa luta no dia seguinte da abolição. Também é o mês em que comemoramos o Dia da África, data que representa a libertação das nações africanas frente à colonização e a união dos diferentes povos africanos e diaspóricos.
O Dia da África reforça que o combate ao racismo exige uma agenda global, com ações articuladas para responsabilizar os agressores. Por isso, localmente, temos que estabelecer marcos legais para garantir não só a punição de racistas, mas, sobretudo, para construir frentes para superar o racismo.
O enfrentamento ao racismo não parte de uma solução mágica, não pode se resumir a ações episódicas, e se sustenta em políticas públicas multiáreas: saúde, educação, cultura, trabalho, renda e liberdade religiosa.
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Particularmente em Minas, neste maio, iniciamos as discussões para a construção do Estatuto da Igualdade Racial em nível estadual. Inspirados pela legislação federal, uni esforços com as três deputadas estaduais negras – Ana Paula Siqueira (Rede) e minhas colegas do Partido dos Trabalhadores e Trabalhadoras, Andréia de Jesus e Leninha – para construir esse marco legal ouvindo pesquisadores, lideranças e movimentos negros. Será dado o primeiro passo em solenidade no Auditório José Alencar da Assembleia Legislativa de Minas, no dia 30.
Resistência no esporte
No entanto, temos que estar atentos, pois, na tessitura ardilosa, o racismo se reinventa. Vejamos o exemplo do Vini Jr. que, apesar de ser a vítima, foi o único expulso na partida que se seguiu como se nada houvesse ocorrido. De forma altiva, ele reagiu aos insultos. Se, por um lado, foi uma cena lamentável para o esporte mundial e um ataque aos direitos humanos; por outro, colocou Vini no panteão dos esportistas que erguem a voz de forma decisiva contra o racismo.
Ao lado de Vini, estão Tommie Smith e John Carlos, que ergueram os punhos cerrados no pódio olímpico na Cidade do México, em 1968; Aída dos Santos, um símbolo do atletismo brasileiro e primeira mulher a disputar uma final olímpica. Temos também nesse panteão, estrelas do esporte que se colocaram contra o racismo: Jesse Owens (1913-1980), Colin Kaepernick, Serena Williams e Lewis Hamilton.
Os ataques direcionados a Vini Jr. causaram perplexidade a todos que entendem que a luta antirracista é fundamental para todos. No entanto, o senador Magno Malta teve a coragem e a desfaçatez de proferir absurdos. Por sua fala, o senador foi denunciado no Conselho de Ética e no Supremo Tribunal Federal. Também fiz a denúncia no plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e a Comissão de Popular aprovou requerimento pedindo a cassação do senador.
Seguiremos atentas e fortes na denúncia do racismo e de todos que querem minimizar esse crime. Racismo é crime e os racistas não passarão.
Macaé Evaristo é deputada estadual pelo Partido dos Trabalhadores.
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Leia outros artigos de Macaé Evaristo em sua coluna no jornal Brasil de Fato MG
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Larissa Costa