A população negra ainda vive em busca de uma reparação efetiva
Como 54% da população brasileira, eu sou negra, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E como negra e periférica, conheço de perto o que pretendemos combater com a proposição de uma agenda para um Estatuto da Igualdade Racial na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Antes de chegar até aqui, como deputada, vice-presidenta da ALMG, fui, seguramente, vítima do racismo estrutural que quero combater. Tenho certeza que minhas companheiras, as deputadas Ana Paula Siqueira (Rede), Andréia de Jesus (PT) e Macaé Evaristo (PT) também já sofreram com o racismo estrutural.
Por luta, resistência, representatividade, necessidade e legitimidade, estamos no parlamento, inaugurando um tempo novo na Casa. Estamos, de certa forma, fazendo internamente a reparação histórica. Por muito tempo, não nos coube neste lugar. Fazemos parte da história do parlamento mineiro como as mulheres pretas da ALMG e espero que isso seja um marco, sem direito a retrocesso.
A população negra ainda vive em busca de uma reparação efetiva, que leve em consideração os seus aspectos econômico, cultural, religioso, territorial e socioambiental. Não houve abolição, houve despejo.
Construção
A promoção da igualdade étnica, racial e o combate às desigualdades sociais resultantes do racismo se faz por ações concretas e coletivas.
O que estamos propondo é inaugurar uma grande agenda em defesa de um Estatuto da Igualdade Racial para Minas Gerais e de uma construção ampla com a sociedade civil para a criação de políticas públicas efetivas para o nosso povo negro.
A construção de políticas afirmativas e a implementação de leis são passos importantes para se evidenciar a questão social, o racismo existente e persistente na sociedade brasileira, mas constituem apenas uma frente de luta diante dos desafios colocados.
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Para falarmos em oportunidade, é preciso defender orçamento, metas, cronograma de ação, fiscalização e implementação das políticas para a população negra.
Primeiro, é necessário que deixem de nos matar. Que deixem de nos enxergar como alvo e como suspeitos. Em qualquer baculejo nas esquinas não é um jovem branco deitado no chão ou apanhando da polícia. É sempre um jovem preto e periférico.
Pensem vocês: o que o jogador Vini Júnior sentiu ao ser chamado de macaco no estádio espanhol? Difícil. Conheço essa dor, já a vivi, já a li em cartas ameaçadoras à minha vida e a da deputada Andreia de Jesus. São inúmeras as violências a que somos submetidas. No campo do trabalho, mulheres brancas ganham até 70% a mais que nós. A cor da nossa pele interfere no quanto a gente ganha pelo nosso trabalho.
Por tudo isso é que propomos essa agenda de enfrentamento ao racismo, como mazela histórica que se perpetua como uma grande nódoa há mais de 400 anos.
Leninha Souza é deputada estadual, vice-presidenta da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e vice-presidenta estadual do Partido dos Trabalhadores.
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.
Edição: Ana Carolina Vasconcelos