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12 de junho: pelo fim do trabalho infantil

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"Nas redes sociais, o trabalho infantil prolifera-se como mato. Crianças de tenra idade são expostas reproduzindo passinhos de dança, vendendo produtos, cantando como se tudo fosse espontâneo. " - Foto: Reprodução/ Freepik
Trabalho infantil perpetua a pobreza

O dia 12 de junho é o dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, essa grave violação do direito da criança e do adolescente que persiste, ainda que, mudando de forma ou adequando-se às novas circunstâncias.

Dentre os fatores que impedem o seu enfrentamento encontram-se os de ordem cultural, uma vez que paira sobre o tema um conjunto de opiniões insensatas emitidas tanto por inocentes quanto por espertalhões e aproveitadores.

Nas redes sociais, o trabalho infantil prolifera-se como mato. Crianças de tenra idade são expostas reproduzindo passinhos de dança, proferindo palavras doces, vendendo produtos, orando, cantando como se tudo fosse espontâneo e desinteressado.

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Há pouco, passei por uma experiência dessas no Instagram. Um influencer mostrava, na tela ao lado da qual aparecia bebendo uma taça de vinho, uma entrevista que havia feito com o “Zezinho”.

O garoto de apenas 9 anos vendia brownie em seu condomínio e atendia pelo Tik Tok como “Vendinha do Zezinho”.  Em tom professoral, a criança explica que, por sua irresponsabilidade havia perdido seu celular e que sua mãe queria dar uma lição para ele e para todas as mães e avós, que não dessem tudo de graça aos seus filhos e netos.

Choviam elogios à mãe e ao garoto, quando resolvi dizer que aquilo se tratava de trabalho infantil. Daí, uma tempestade de críticas e agressões à minha postagem e a mim chegaram imediatamente.

Os argumentos não variavam muito, na maioria das vezes destacavam que o trabalho dignificava ou enobrecia, muitos afirmaram ter trabalhado na infância e que isso só lhes fez bem. Os mais nervosos diziam que eu aprovaria se o garoto estivesse traficando ou usando drogas.

A questão é que, as experiências individuais relatadas não conseguem sobrepor-se às estatísticas. A realidade é que o trabalho infantil é um dos principais responsáveis pela reprodução da pobreza.

Crianças e adolescentes pobres perpetuam a condição de pobreza das famílias, pois, uma vez impedidas de se educarem adequadamente no tempo certo, permanecem no mercado de trabalho como mão de obra desqualificada e barata.

Álcool e drogas

O trabalho infantil expõe precocemente a criança e o adolescente ao mundo adulto, por vezes, exigindo esforços físicos maiores que as suas idades permitem ou mesmo cobrando responsabilidades para as quais ainda não estão devidamente preparados.

Enganam-se também os incautos que pensam que colocar as crianças e adolescentes para trabalhar os protege do uso e do tráfico de drogas. Dentre as piores formas de trabalho infantil encontram-se o tráfico de drogas e a exploração sexual.

Exposta ao mundo adulto, na internet, no condomínio ou nos sinais de trânsito, os mesmo passam a ter contato com tudo que envolve aquele mundo, do qual fazem parte a bebida, o cigarro, o sexo e as drogas. O próprio influencer estava com um copo de vinho na mão quando apresentava o Zezinho.

Certa vez, em diálogo com pais cujos filhos estavam cumprindo medidas socioeducativas, um pai, cujo filho estava apreendido por tráfico de drogas, me procurou ao final, dizendo-se culpado pela situação do filho.

Ele me confidenciou que, embora não necessitasse financeiramente, exigiu do filho que trabalhasse para que o mesmo desse valor às coisas que conquistasse.

O menino começou vendendo pães de queijo na porta da escola e pelas ruas do bairro. Como ele era um bom vendedor, rapidamente recebeu uma proposta para trabalhar com uma mercadoria mais vantajosa.

Enfrentamento

Seja no mundo real ou no virtual, o trabalho infantil deve ser enfrentado. As redes sociais não podem continuar sendo um espaço onde se cometem e incentivam ilegalidades, nesse campo também é preciso regulá-las.

 

 

Dimas Antônio de Souza é professor de ciência política do Instituto de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e escreve quinzenalmente para esta coluna.

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Leia outros artigos de Dimas Antonio de Souza em sua coluna Vela no Breu, no Brasil de Fato.

 

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

Edição: Elis Almeida