Belo Horizonte (MG) ganhou um reforço a mais na luta pelo meio ambiente da cidade e as populações impactadas por ele. Na noite da quarta-feira (14), no plenário da Câmara Municipal, cinco vereadoras e vereadores lançaram a Frente em Defesa das Matas, Serras e Águas, que pretende unir forças dos parlamentares e movimentos para preservar áreas verdes e recursos hídricos.
A capital mineira, que foi conhecida como cidade jardim por suas extensas matas urbanas, já não pode ser assim classificada, lamentou a vereadora Iza Lourença (PSOL), uma das idealizadoras da iniciativa. Retrocesso que impacta e se soma à ocorrência de catástrofes climáticas.
“As cidades têm papel nisso. Quando despeja esgoto e concreta nos rios, quando tem um modelo de transporte que não garante o transporte coletivo para as pessoas, pelo contrário, aposta no transporte individual, quando corta centenas de árvores para construir um prédio”, listou a vereadora.
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Os parlamentares pretendem unir as atuações socioambientais que já realizam na Câmara com a mobilização de movimentos populares da cidade. Na avaliação de Iza, isso dará força para a pauta ambiental dentro da casa.
Críticas à Câmara e ao governo estadual
O vereador Wagner Ferreira (PDT), também idealizador da frente, provocou a Câmara, ao sugerir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Serra do Curral. Cartão postal de Belo Horizonte e localizada dentro da cidade, a serra tem sido minerada há décadas.
“Essa casa é a casa que faz a CPI da Lagoa da Pampulha, mas não faz a CPI da Serra do Curral. São as contradições do parlamento, e essa frente veio para enfrentá-las”, garantiu o vereador. “Vamos fazer a CPI das matas da cidade, que a Direcional está tentando destruir, as poucas áreas verdes que ainda restam na cidade?”, completou.
Já o vereador Bruno Pedralva (PT), também integrante da frente, criticou o governo Romeu Zema (Novo) pelo acordo feito com a Vale, que trará inúmeros impactos para a cidade de Belo Horizonte. Pedralva avalia que o valor acordado foi ínfimo.
“O lucro da Vale em 2022 foi de 106 bilhões. Foi o terceiro maior lucro da bolsa brasileira da história. No mesmo ano, o orçamento do Estado de Minas Gerais previu uma receita de 106 bilhões. A Vale lucrou mais que o Estado de Minas Gerais tem para gastar”, relembrou.
Nas palavras de Pedralva, os parlamentares e diversos movimentos socioambientais de Belo Horizonte têm um inimigo comum: as grandes empresas, como empreiteiras, a “indústria da enchente”, o agronegócio e a mineração.
Problemas já batem à porta
O evento teve a presença massiva de lideranças ambientais, que farão parte da Frente em Defesa das Matas, Serras e Águas. Jeanine Oliveira, integrante do Projeto Manuelzão e uma das coordenadoras do movimento "Tira o Pé da Minha Serra", felicitou a iniciativa e expressou compreensão quanto aos limites dos vereadores.
“A gente está muito feliz e entende todos os limites legislativos que os vereadores vão ter, principalmente quando estiver falando do assunto água, que percorre por outra esfera legislativa que não a municipal”, ponderou, mas reforçou a importância da pauta.
“Estamos em uma escassez hídrica muito pesada. Fazemos racionamento de água na região metropolitana desde 2015. Desde lá, a única solução que foi criada para ampliar o sistema que nos abastece foi a captação no Rio Paraopeba, que ficou pronta em 2017 e a gente perdeu em 2019, com o rompimento da barragem da Vale. A gente tem contado com a sorte de não ter uma seca tão severa”, pontuou.
Edição: Elis Almeida