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Correlação de forças segue desfavorável para eleições 2024, democracia ainda está em jogo

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A aliança entre Lula e Alckmin foi essencial para a vitória do campo democrático nas urnas - Foto: Ricardo Stuckert/PR
Condenações a Bolsonaro devem torna-lo grande cabo eleitoral

As eleições municipais que ocorrerão em 2024 não apenas avaliarão os dois primeiros anos do governo Lula, como também serão essenciais para a consolidação da vitória das forças democráticas que venceram as eleições em 2020.

Nesse sentido, se pretendemos obter êxito eleitoral, realizar uma análise do quadro conjuntural que vivemos mais realista é de fundamental importância.

Mesmo que consideremos o conjunto das falcatruas que a extrema direita bolsonarista fez para se manter no poder, incluindo a tentativa de golpe de estado, o fato é que a diferença eleitoral que nos garantiu a vitória, embora expressiva diante da situação, foi pequena.

Dianteira da direita

Também não nos é favorável a correlação de forças no Congresso Nacional, onde a maioria liberal e conservadora possui forças suficientes para impedir a revisão nas reformas trabalhista, da Previdência e nos processos de privataria da Eletrobrás e da Petrobrás.

Nas plataformas sociais, a rede bolsonarista segue com sucesso o mesmo padrão da propaganda totalitária nazista, criando, a partir da infinidade de mentiras que veiculam, uma realidade paralela e, sobretudo, mantendo sua massa mobilizada.

As igrejas conservadoras seguem em seu proselitismo, promovendo o milenarismo religioso em um novo tipo de milenarismo político, no qual o próprio anticristo fora entronado como o salvador.

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Por seu turno, a grande mídia continua com o seu antipetismo contumaz. Os parceiros da operação Lava Jato insistem em manter incólumes as mentiras da quadrilha de Curitiba, ocultando o que não convém informar e divulgando o que é de seu interesse.

Apesar de todos os escândalos, Bolsonaro segue como líder de uma massa mais preocupada com os costumes do que com o preço da gasolina e de outra que se incomoda quando os preços da gasolina e dos carros abaixam.

As condenações que se avizinham ao ex-presidente podem lhe transformar em um cabo eleitoral maior do que já demonstrou ser. Curiosamente, Bolsonaro conseguiu, mesmo ocupando a Presidência, manter o seu perfil de “antissistema”. Aliás, graças ao perfil de inimigo do “sistema”, que ele conseguiu ocultar a sua incompetência.

Agora, o “sistema”, o mesmo que o impediu de governar e que retirou Lula da prisão para leva-lo à presidência, quer se vingar dele. Um novo tipo de herói parece estar sendo gestado, dessa vez o mártir.

Frente ampla e composição

Creio que o momento requer prudência. Muitos alardeiam a necessidade da união das esquerdas, com lançamento de candidaturas próprias.

Obviamente que não somos contra a união das esquerdas, situação essa que não verificamos nas votações mais importantes para o governo, como o arcabouço fiscal, por exemplo.

A questão é que, apenas a união da esquerda, sem o apoio das forças do campo democrático, não garante necessariamente vitória contra a extrema direita. Por isso Lula compôs com Alckmin e, graças à essa frente ampla que se formou, conseguimos a maioria nas urnas.

O país é continental e, nem sempre o que é bom para uma cidade o é para outra. Onde a esquerda possuir candidatos competitivos, que busque formar em torno deles, já no primeiro turno, alianças mais ao centro.

Deve ser pensado ainda, o potencial dessas possíveis candidaturas em agregar ao seu entorno, no segundo turno quando for o caso, as forças mais ao centro e mesmo à direita.

Onde não houver candidaturas competitivas da esquerda para os cargos executivos, e, candidaturas da extrema direita tenham chances concretas de vencer, o caminho também é a composição.

Como diz o ditado, prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém!

 

 

Dimas Antônio de Souza é professor de ciência política do Instituto de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e escreve quinzenalmente para esta coluna. Twitter: @prof_Dimassouza; Instagram: @prof.dimasoficial

 

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Leia outros artigos de Dimas Antonio de Souza em sua coluna Vela no Breu, no Brasil de Fato.

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

 

Edição: Elis Almeida