Na atualidade, ser famoso de qualquer forma é que é importante
O que os magnatas do mundo querem é notoriedade e poder. A fama e a visibilidade nos abundantes meios de comunicação contribuem para o aumento do poder que ostentem.
Em passado não muito distante era importante e notável quem tivesse contribuído com um achado científico ou um ato heróico. Na atualidade, ser famoso de qualquer forma é que é importante.
A ostentação de riqueza é o desejo de estar onde os pobres e os de classe média não podem estar; ou fazer o que eles não podem fazer. O que os 150 famosos e magnatas, que na noite de 31 de dezembro de 1988, à bordo do barco Bateau Mouche queriam expressar, é que eles eram superiores aos que estavam descalços nas areias e os que estavam em pé nas calçadas de Copacabana. Mas o barco tombou e naufragou tirando a vida de um terço dos turistas.
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Dos 1317 passageiros dos Titanic que naufragou em 1912, um quarto era de milionários da primeira classe.
Na cosmogonia grega, a união de Urano com a Terra gerou os titãs, seres potentes que dominaram os espaços e os oceanos, dai o nome Titanic. Os segredos na vastidão do infinito cosmo e nas profundezas tenebrosas dos oceanos sempre foram desafios às pessoas abastadas.
Júlio Verne (1828-1905) em sua obra “Vinte mil léguas submarinas” (1866) narra a tragédia de três corajosos navegadores de nomes Ned, Conselho e Professor. Eles se lançaram ao mar tentando descobrir os segredos de suas profundezas e vencerem os obstáculos dos navegadores. Em alto mar o navio foi atacado por um monstro e o naufragou. Os três tripulantes foram resgatados por um submarino comandado pelo capitão Nemo, que era um homem excêntrico e que não queria mais voltar à terra. Depois de muitas tentativas de fuga os três prisioneiros sofrem a angústia da incerteza de continuar vivendo.
Titan
Em 18 de junho deste ano, o submersível Titan, da Ocean Gate, implodiu com a pressão da água, não por ignorância técnica, mas porque os tripulantes assinaram um termo de que estavam conscientes dos riscos daquela jornada.
Pouco antes de tomar lugar a bordo do submersível o bilionário Stockton Rush disse que “Se você só quer ficar seguro, não saia da cama”. Portanto, o que prevaleceu foi o desejo de ação espetacular. Como diz Guy Debord (1931-1994), há uma degradação mental na sociedade, em face da reificação da vida humana que se tornou mercadoria, na qual o espetáculo é uma forma de dominação dos mais ricos sobre os demais membros da sociedade.
Casamento nas alturas
A indústria cultural cria alternativas de aventuras de menor custo para a classe média, a exemplo do casamento de Ricardo Siqueira com sua noiva Andrea Soares, em 1991, em Lagoa Santa. Eles se casaram durante uma descida de para-queda de três mil metros de altura. Houve tempo para a troca de alianças e o tradicional beijo. No solo, muitos repórteres de rádio e televisão os esperavam.
Enquanto isso, os 10% dos mais ricos do mundo ganham 52% da renda mundial e os mais pobres, apenas, 8% do total. Só no Brasil, 33 milhões de habitantes não têm o que comer.
Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da UEMG e UNI-BH. Mestre em História pela PUC-RS
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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.
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Edição: Elis Almeida