A data de 25 de julho é para celebrar o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela. Em sua 11ª edição, o “Julho das Pretas” traz como lema "Mulheres negras em marcha por reparação e bem viver", com atividades que acontecem desde o início do mês. Em Minas Gerais, uma das pautas principais é a construção do Estatuto da Igualdade Racial.
O texto está em elaboração desde o início do ano e agora entra em fase de oitiva para a contribuição da população do interior do estado. “Um dos pontos que entendemos ser fundamental para a vida das mineiras é a saúde integral e mental das mulheres negras”, explica a deputada estadual Andréia de Jesus (PT), uma das quatro parlamentares negras da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), junto à Macaé Evaristo (PT), Leninha (PT) e Ana Paula Siqueira (Rede).
As representantes estão à frente da construção do documento e realizaram, na terça (18), uma audiência pública para debater o tema. Na ocasião também foi elaborado um projeto de lei para que seja oficialmente instituído em Minas Gerais o “Julho das Pretas”.
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“Nossa luta é contra o colonialismo, o racismo e o patriarcado. É uma luta pela sobrevivência, contra a fome e contra a violência. Mas não é só sobre a dor que queremos falar neste dia e neste mês”, ressalta Leninha (PT), que é a primeira mulher negra, em quase 200 anos, que ocupa o cargo de vice-presidenta da Casa.
Mulheres negras têm muito a dizer
A opinião de Leninha é compartilhada por Paulinha Silva, coordenadora do Levante Popular da Juventude e diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE).
“É importante enxergar as mulheres e o povo negro a partir da sua intelectualidade, cultura, diversidade, da sua capacidade de análise e formulação”, pontua. Paulinha relembra Lélia Gonzalez, Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo, grandes intelectuais mineiras reconhecidas internacionalmente.
“Nós, mulheres negras mineiras, formulamos contribuições nas mais diversas áreas, desde a literatura até à política, sobre os passos que temos que dar para reconstruir o Brasil e pensar em um novo projeto de sociedade. Carolina Maria de Jesus, por exemplo, fala de um país para os brasileiros. São contribuições revolucionárias e de uma nova ordem”, completa.
Representatividade e identidade
Desde 2007, a artesã Ana Paula Medina criou, juntamente com outras quatro mulheres negras, o projeto “Imani Anna”, que significa fé (imani), na língua Suaíli do Quênia, e graça (anna), do latim. Por meio de bonecas, chaveiros, marcadores de página e outros produtos de pano, o “Imani Anna” resgata a ancestralidade, a afetividade entre as mulheres e fortalece a representatividade e a identidade da população negra.
Ana conta que o processo de produção e comercialização dos artesanatos modificou a autoestima das integrantes do grupo, que têm idades entre 21 e 73 anos. “Nós participamos de uma oficina de turbantes para colocar nas bonecas e aí passamos a usar também esse acessório. No começo, nós não gostávamos muito, porque todos olhavam para nós e ficávamos incomodadas. Depois, em um processo de diálogo, entendemos que era uma questão que envolvia a nossa autoestima. Hoje, quase não ficamos sem turbante”, conta orgulhosa.
Para ela, o 25 de julho é um momento de reflexão da trajetória das mulheres negras e de projeção para novas conquistas. “É um momento de a gente conseguir ter visibilidade, mostrar nossa força, potência e criatividade. Mostrar o que geramos de valor para o Brasil, para o mundo e como estamos contribuindo para acabar com a discriminação racial. São pequenas coisas, mas que já estão surtindo efeito e é de muita importância para a gente”, reforça.
Conheça a história da data
Em 1992, foi realizado o primeiro Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas. O evento possibilitou a aproximação de mulheres negras de diversos países para a discussão de temas e de estratégias de luta em proporções transnacionais.
Assim, o Dia das Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas foi instituído durante o encontro e reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) no mesmo ano.
Em 2014, durante o mandato da presidenta Dilma Rousseff, foi promulgada a Lei 12.987, que definiu na mesma data o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, em homenagem Rainha Tereza.
Programação - Julho das Pretas em MG
Roda de Conversa
No sábado (22), acontece em Belo Horizonte a roda de conversa “Reparação histórica: o caminho para um país justo”, com a mediação de Diva Moreira, jornalista, cientista política e fundadora da Casa Dandara, e Irene Vida Gala, diplomata e subchefe do escritório de representação do Itamaraty. A conversa será no Sinpro, na Rua Jaime Gomes, 198, no bairro Floresta.
Mostra de Cinema
Também em Belo Horizonte, está em cartaz até o dia 31 a mostra “Cine Pretas”, que conta com exibições diversas que abordam temas como a solidão da mulher preta, o racismo psicológico e a cultura afro-brasileira. A programação é gratuita e pode ser conferida aqui.
Marcha das Mulheres Negras em Juiz de Fora
No dia 22 de julho, acontece, em Juiz de Fora, na Zona da Mata, a “Caminhada Juiz de Fora negra”. A concentração é às 9h, no Parque Halfeld, no Centro da cidade.
Posse do Conselho de Promoção da Igualdade Racial
Na terça (25), toma posse a nova diretoria do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Belo Horizonte para o biênio 2023-2025. A solenidade conta com uma roda de conversa, às 15h, sobre “Controle social e empoderamento”, com mediação de Makota Celinha Gonçalves, jornalista e coordenadora do Centro Nacional de Africanidades (Cenarab).
O evento acontece no auditório 1 da Prefeitura de Belo Horizonte, na Avenida Afonso Pena, 1212, Centro.
Debate sobre economia em São João Del Rei
Também no dia 25, acontece em São João del Rei a atividade “Con(VIVÊNCIAS) em economia do cuidado: ciclo de sabenças para mulheres negras”. A roda de conversa é organizada pelo coletivo Linha Nigra e acontece no Fortim dos Emboabas, Rua Altamiro Flor, nº 103, Alto das Mercês.
Maternar preto
Também em São João, mas no dia 29, acontece a roda de conversa “Maternar preto: saúde mental da mulher preta e o autocuidado coletivo”. O bate-papo será às 14h, na Praça da Biquinha, Bairro Tejuco.
Edição: Larissa Costa