Para ampliar a união, a solidariedade e o fortalecimento da identidade ancestral feminina, entre os dias 28 e 31 deste mês, acontece o primeiro Encontro Estadual de Mulheres Indígenas de Minas Gerais. A atividade, que também busca o empoderamento e compartilhamento de vivências, será na Aldeia Ibiramã Kiriri do Acré, em Caldas, na região Sul do estado.
Organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), o evento também tem o objetivo de preservar a cultura indígena. Por isso, a programação conta com a realização de rituais tradicionais, troca de saberes, atividades de artesanato e danças, que são herança geracional dos povos tradicionais.
Giselma Xucuru-Kariri, que faz parte do departamento de mulheres indígenas da Apoinme, conta que a principal expectativa é de que o encontro seja um espaço privilegiado de debate, alinhamento e construção de encaminhamentos para a garantia de uma vida segura e com direitos, dentro e fora dos territórios.
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“Nós vamos tratar de pautas como a violência contra as mulheres indígenas, as questões da educação, saúde, segurança alimentar, sustentabilidade, desenvolvimento, entre outras. Queremos a garantia dos direitos dentro dos territórios e uma vida segura. Queremos semear e gerar frutos com o encontro”, comenta.
Para cumprir com esses objetivos, a atividade terá, além das mesas de debate, uma série de oficinas que permitem a troca entre as mulheres. Ao final, a organização espera criar um canal permanente entre as indígenas de todas as etnias em Minas Gerais. Dessa forma, elas buscam conseguir pautar o reconhecimento e a valorização.
“Tem muito tempo que nós não conseguimos sentar juntas e nos ouvir. Nosso espaço precisa ser afirmado, reafirmado, defendido e garantido, para que a gente consiga trabalhar nas bases, junto às nossas lideranças, e ter reconhecimento e valorização”, destaca Giselma.
Desafios
O encontro acontece em meio a uma série de impasses sobre a implementação do novo marco temporal, aprovado na Câmara dos Deputados e em debate no Supremo Tribunal Federal (STF). A proposta, defendida por ruralistas, é caracterizada como genocida pelos indígenas e por defensores dos povos tradicionais.
Se entrar em vigor, a demarcação de terras só deve acontecer quando for comprovado que os indígenas a habitam de forma permanente antes de 5 de outubro de 1988, quando foi promulgada a Constituição Federal.
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) calcula que existam 41 mil indígenas em Minas Gerais, de 20 etnias pertencentes ao tronco linguístico Macro-Jê e Tupi-Guarani. Até abril deste ano, apenas 16 terras foram demarcadas ou estão em processos de demarcação no estado, o que corresponde a menos de 0,2% dos 586.528 quilômetros quadrados do território mineiro.
Em entrevista ao Brasil de Fato MG, publicada em junho deste ano, Haroldo Heleno, representante do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), avaliou que, independentemente da situação regulatória das terras, todos os povos que habitam o estado serão impactados negativamente pelo marco temporal.
Giselma destaca que, diante desse desafio, o encontro das mulheres indígenas ganha ainda mais relevância.
“O marco temporal traz riscos para nós indígenas, principalmente para aqueles que estão com seu território em fase de homologação e demarcação. A luta é resistir e persistir para que a gente consiga garantir o direito de viver em nossos territórios, com a esperança de tempos melhores para todas nós. Acreditamos que vamos sair vitoriosas”, conclui.
Apoie
Para viabilizar a atividade, a organização está fazendo uma vaquinha online. Todo o dinheiro arrecadado será utilizado para a compra de materiais e garantia da estrutura.
Para contribuir com qualquer valor, clique aqui.
Edição: Larissa Costa