Em reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), finalizada na quarta-feira (2), o Banco Central (BC) definiu pela redução em 0,50% da Selic, que passou para 13,25% ao ano. Mesmo assim, sob comando do bolsonarista Campos Neto, a taxa de juros real no Brasil segue sendo a maior do mundo.
A redução, que aconteceu pela primeira vez nos últimos três anos, foi considerada uma vitória. Porém, a persistência das altas taxas de juros prejudica a economia e as condições de vida da população.
Ednéia de Souza, que é integrante do Movimento Nacional de Luta Pela Moradia (MNLM), que atua nas periferias de Minas Gerais, destaca que é justamente os setores mais pobres que têm sofrido com a atual política de juros do BC. Ela avalia que, na ponta, até mesmo o direito de acessar produtos básicos e de subsistência fica prejudicado.
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“O primeiro impacto é na vida da população mais pobre, que recebe salário, que sente lá na ponta, no supermercado, quando vai comprar o básico para sobreviver, como o arroz e o feijão. Reflete na nossa qualidade de vida de forma muito perversa. Hoje em dia, muitas famílias já abriram mão de várias coisas porque não têm condições. O Banco Central deveria ter mais compromisso com o povo brasileiro”, afirma.
Endividamento
Outro aspecto crítico é o maior endividamento da população, que já bateu recorde no ano passado. O motivo disso é que a Selic serve de referência para as instituições financeiras, que aumentam os juros praticados em financiamentos, empréstimos, cartão de crédito, entre outros. Outra consequência é que os juros nas alturas dificultam a renegociação de dívidas, cujas parcelas se tornam inviáveis.
Uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) demonstrou que, em junho deste ano, 94,9% das famílias de Minas Gerais estavam endividadas, o que representa a maior taxa de endividamento do Brasil. No país, o índice era de 78,5%.
Outro levantamento, realizado pelo Núcleo de Inteligência e Pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio-MG), indicou que, em maio deste ano, quase 50% das famílias da capital mineira possuía algum compromisso financeiro em atraso.
A pesquisa ainda demonstrou que, entre os que possuem renda menor que dez salários mínimos, mais de 60% acreditavam que não teriam condições de pagar as contas no mês seguinte ou que pagariam apenas parcialmente. Entre os que possuem renda maior, o índice foi de aproximadamente 40%.
Como consequência, a política adotada pelo BC também estimula o aumento do desemprego, porque, com o crescimento do endividamento, as pessoas tendem a comprar menos, as empresas deixam de produzir e demitem trabalhadores.
Quem ganha com isso?
O presidente do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e Região, Ramon Peres, avalia que quem ganha com a alta da Selic são apenas os setores mais ricos da sociedade.
Ele explica que, enquanto a maior parcela da população se endivida, os donos do capital financeiro realizam aplicações que, devido aos juros altos, fazem crescer o investimento. Ao mesmo tempo, isso não é revertido para o mercado ou para as empresas. Por isso, Ramon avalia que a atual política não é democrática e se distancia dos atuais anseios econômicos do país.
“O setor mais privilegiado com essa política de taxa de juros alta são os grandes investidores, os donos do capital. Ou seja, os ricos, os bilionários. Elas pegam o próprio dinheiro, que fica na conta bancária, e fazem aplicações financeiras”, avalia.
“Por exemplo, ele [o rico] aplica o seu R$ 1 milhão e, com a alta taxa de juros, ele tem uma remuneração mais alta sob o seu investimento. E esse investimento não produz nada além de riqueza para quem investiu. O investimento não vai para o mercado ou para as empresas, mas continua no bolso de uma pequena parte da população, que é detentora de grandes quantidades de dinheiro”, complementa.
Mobilização
Em contraponto, comitês populares de todo o Brasil organizam ações de rua pela redução da taxa de juros e pela saída de Campos Neto do comando do BC. Na capital mineira, movimentos e organizações sociais têm protagonizado atividades de diálogo e de agitação e propaganda, como panfletagens e intervenções teatrais.
Adelson Moreira, que é membro do comitê do bairro Bonfim, de Belo Horizonte, conta que o objetivo é informar a população e construir a força social necessária para mudar esse cenário, para que o Brasil consiga avançar na promoção do desenvolvimento econômico, combinado com o combate à pobreza, à fome e à desigualdade social.
“O comitê popular Bonfim tem participado dessas atividades, ocupando praças e locais de grande circulação, cantando paródias, distribuindo panfletos e interpretando personagens. Queremos, com criatividade e bom humor, despertar a população de Belo Horizonte para a necessidade de fazermos coro com Lula, pela queda da taxa de juros. Sem participação popular, a mudança não virá”, relata.
Edição: Larissa Costa