Riqueza e do poder é passado entre pai e filhos no Brasil
Dois fatos da vida real:
1 – O presidente Lula foi ao estado do Pará, na cidade de Abaetetuba, fazer entrega de moradias do programa Minha Casa, Minha Vida. Até aí tudo tranquilo. Mas o que chamou a atenção foi o discurso da prefeita. Ela disse que seu pai era o prefeito na outra ocasião em que o presidente Lula esteve na cidade. Agora ela recebe o presidente Lula também. Para um olhar atento, esse mecanismo se repete em benefício dos ricos brasileiros. O bastão da riqueza e do poder é passado entre pai e filhos no Brasil. É olharmos como funcionam os partidos políticos, os times de futebol, as pequenas e grandes empresas, e verão que o Brasil continua o mesmo da época do Império. Essa é a dança das cadeiras brasileiras. Entrar nessa roda é quase impossível.
2 – O segundo fato é sobre as relações raciais brasileiras. Talvez seja o assunto mais complicado de abordar no Brasil. Podemos falar de tudo, menos do racismo. É difícil demais. A miscigenação é a nossa maior identidade, mas, ao mesmo tempo, um grande entrave. Somos quase pretos. Somos quase brancos.
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Estava almoçando e, ao meu lado, duas senhoras negras muito bonitas e bem vestidas. Parece que fazia tempo que as duas não se viam. O papo rolava solto. Lá pelas tantas, uma delas saca o celular e começa a mostrar fotos e, numa foto específica, parou e falou:
- Olha esses meus netos: esse é loirinho, branquinho e tem o cabelo lisinho. Ela fala como se fosse um “alívio” ele ser branco. Já, com a minha netinha pretinha, eu me preocupo mais. Sempre preocupo com o cabelo e com a roupa dela. Ela precisa sempre estar arrumadinha. Fico sempre com o coração apertado pensando que ela possa sofrer alguma discriminação. O povo perdeu o medo de humilhar as pessoas.
A amiga balançou a cabeça, concordando. Pediram a conta.
Lembrei-me do ex-vice-presidente da república, o Mourão, referindo-se também ao neto bem branquinho do seguinte modo:
- Ele melhorou a família. Ele é muito bonito.
Esses dois fatos, infelizmente, falam muito da nossa sociedade brasileira, que continua extremamente desigual e racista.
Minha cara leitora, meu caro leitor, quero fazer um esclarecimento importante: sou um escritor das quebradas e da classe trabalhadora. Meus singelos escritos não julgam qualquer pessoa ou fato. Claro que tenho meu olhar. Freud falava que gostava de estudar e revelar o que está escondido atrás do acordo tácito da sociedade.
Eu continuo minha peregrinação na minha escrita.
Rubinho Giaquinto é músico, escritor e militante do Coletivo Solidariedade Cidadã.
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Leia outras Crônicas de Rubinho Giaquinto em sua coluna no Brasil de Fato MG!
Edição: Elis Almeida