Um pouco para esquerda. Aí ficou legal! Não, passou. Volta um pouco. Ai, ficou bom! Deixa aí.
A antena da minha casa ficava bem lá no alto do terreno para que a imagem da televisão pegasse bem e ficasse sem “fantasmas”. Quem é das antigas vai saber o que é.
Quem fazia todo esse trabalho de instalação era meu tio Lungo. Ele comprava a antena, os fios e tudo que precisasse para que a instalação ficasse como uma tela de cinema. Ele fazia questão. Gostava de deixar tudo bem-feito. Bem no capricho. Adorava um fio pela casa.
Só tinha um problema: naquela época, não tinha celular e, para que a televisão ficasse com uma imagem boa, tínhamos que verificar canal por canal e deixar a antena numa posição que fosse favorável para todos os canais. Aí que começava todo o carnaval. Às vezes, essa instalação levava quase o dia inteiro. Ele sempre apelava comigo, porque ele gritava lá de cima e eu demorava para responder. Lembro que tínhamos mais ou menos uns 6 a 8 canais na televisão aberta. O enredo para instalar a antena nova era mais ou menos assim:
- Hoje vamos instalar uma antena nova que vai melhorar muito a imagem de todos os canais e vou precisar que você me ajude, beleza?
— Beleza.
Nosso lote é grande e íngreme. No fundo, o terreno é um barranco e a instalação da antena era feita na laje do vizinho. Ficava longe pra caramba. Só no grito para resolver. Tinha que levar uma escada pesada e enorme. Geralmente, o grito chegava com delay. Aí que começa o quiproquó.
Ele gritava lá de cima:
— Canal dois tá bom?
— Não. Um pouco para esquerda. Aí ficou legal! Não, passou. Volta um pouco. Ai, ficou bom! Deixa aí.
— Caramba! Olha direito. Presta atenção, menino! Não estou escutando você. Não faz nada direito. É pra deixar assim? Ele vinha verificar se realmente a imagem estava boa. Ele fazia isso umas dez vezes. Estou falando sério. Ficava cansado com toda essa movimentação.
E assim ia de canal por canal até ele apelar. Ficava bravo. Resmungava. Hoje me lembro disso com uma saudade imensa. Nunca pensei na minha vida que sentiria saudade de arrumar a antena da televisão.
Não valorizamos as coisas mais simples da vida. O tempo passa e voa... Hoje só quero agradecer. Valeu, meu velho!
Rubinho Giaquinto é músico, escritor e militante do Coletivo Solidariedade Cidadã.
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Leia outras Crônicas de Rubinho Giaquinto em sua coluna no Brasil de Fato MG!
Edição: Elis Almeida