Minas Gerais

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Agronegócio, música sertaneja e a rivalidade entre o urbano e o meio rural

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Imagem ilustrativa - Foto: Freepik
Primeira superação da música “caipira” veio com a invenção do sertanejo

O que faz a diferença entre os habitantes do meio rural e os das grandes cidades são as atividades econômicas.

O meio rural é o sítio do setor primário com agricultura, pecuária e extrações minerais e vegetais. Nas grandes cidades e suas periferias localizam-se os setores os setores da indústria de transformação e os serviços com maior categorização de seus trabalhadores e melhores remunerações.

No passado as diferenças e as discriminações entre rurícolas e o citadinos foram maiores, com troças, zombarias e anedotas em programas de rádio e matérias em jornais.

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Como a maioria dos habitantes das cidades tinha e tem origem no meio rural, a música caipira, que é de raiz cultural tradicional, era bem divulgada na fonografia de discos e programas de rádio. O folclorista mineiro de Juiz de Fora, Lindolfo Gomes, em 1948, chegou a pedir ao governo que censurasse as discriminações aos camponeses brasileiros em programas de rádio. 

Mas não era só no Brasil que ocorria este tipo de preconceito. No livro “O lugar” de Annie Ernaux, prêmio Nobel de literatura, ela conta a história de vida de seu pai que viveu na França na primeira metade do século XX. Na infância e na juventude ele trabalhava em uma fazenda até ser convocado para atuar como soldado na Primeira Guerra Mundial. Depois da guerra não voltou mais para o campo, mas vivia tentando esconder que tinha origem no meio rural.

A primeira superação da música “caipira” veio com a invenção do sertanejo, em meados do século XX, no qual os compositores faziam referência à saudade da vida na roça; o heroísmo dos boiadeiros e o duro trabalho dos tropeiros. Mas esta fase não durou muito.

Com o aumento da população urbana e migração em massa do meio rural, a partir dos anos 1990, a música sertaneja passou a abordar o romantismo urbano de paixões e decepções amorosas. Formaram-se grandes empresas para explorar agricultura e pecuária em que os proprietários e parte dos trabalhadores vivem nas cidades.

O agronegócio tenta ganhar a simpatia dos citadinos com propaganda, no momento que surge o sertanejo universitário. “Agro é pop e sertanejo é top”, mostrando que a população rural é bem sucedida na produção para exportação. A música sertaneja engloba gêneros urbanos como funk e rap, amplamente divulgada e patrocinada pelo agronegócio.

O que caracteriza a música sertaneja universitária e a atualmente apelidada de “agroneja” é a estética “kitsch” que explora o sentimento das massas, fanatizando as platéias, tornando as criações artísticas essencialmente mercadorias. Atesta isso, o fato de que entre os 10 cantores mais ricos do Brasil, 7 são sertanejos, sendo que Gustavo Lima é bilionário e os demais têm fortunas acima 500 milhões.

Os cantores não sertanejos são discretos com suas fortunas e os sertanejos fazem questão de ostentar suas riquezas. São como nouveau-riche deslumbrados.

A profecia do beato Antônio Conselheiro, de que o mar iria virar sertão, não se realizou, mas o certo é que o sertão virou cidade, perfeitamente inserido na indústria cultural.

 

Antônio de Paiva Moura é autor do livro Médio Paraopeba e seu saber viver, professor de História, aposentado da UEMG e UNI-BH. Mestre em História pela PUC-RS

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Leia outros artigos de Antônio de Paiva Moura em sua coluna no Brasil de Fato MG

 

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Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

Edição: Elis Almeida