Servidores públicos, de diversas categorias, junto a centrais sindicais saíram às ruas de Belo Horizonte, na terça-feira (3), para denunciar as tentativas de privatizações do governo de Romeu Zema (Novo) e reivindicar a valorização das carreiras do funcionalismo. O ato fez parte do “Dia nacional de paralisação em defesa dos serviços públicos”.
Além da defesa das estatais mineiras, a manifestação pediu o arquivamento da Proposta de Emenda à Constituição 32 (PEC 32), o fim das terceirizações do serviço público e a recomposição das perdas salariais dos servidores públicos federais, com equiparação dos auxílios entre os poderes. Os sindicalistas ainda denunciaram a insistência do governador de Minas Gerais em aderir ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF).
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Reforma administrativa
Criada em 2020 pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, a PEC 32, conhecida como reforma administrativa, abre portas para privatizações e terceirizações, reduz a possibilidade de contratação de servidores via concurso público, além de acabar com a estabilidade e precarizar as relações de trabalho. O texto está em tramitação na Câmara dos Deputados.
Para o professor de filosofia Fábio Bezerra, integrante Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Sindcefet-MG), a proposta também abre precedente para que haja um apadrinhamento de setores, fazendo com que deputados e senadores possam, eventualmente, influenciar empresas públicas na indicação de funcionários.
“Isso vai precarizar e diminuir a qualidade dos serviços públicos que as instituições federais promovem, sejam elas de saúde, de educação, seja o setor administrativo. Somos contrários à reforma administrativa”, defendeu.
A professora do curso de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e presidenta do Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte (Apubh), Maria Rosaria Barbato, acrescenta que há uma narrativa falaciosa de que o servidor público representa um grande custo para o Brasil.
"A maioria dos servidores públicos são professores, e o salário médio dos professores é de quase quatro salários mínimos, enquanto apenas 10% dos servidores ganham em média acima de dez salários mínimos. Então isso nos diz que não é o serviço público que representa um custo impossível para este país”, pondera.
Diretor do Sindicato dos Trabalhadores nas Instituições Federais de Ensino (Sindifes), Waldir de Paula Martins olha para as mobilizações como um momento de retomada das lutas populares após o obscurantismo que vigorou no governo Bolsonaro. “Diante de um Congresso ocupado pela extrema direita, é hora do funcionalismo público do Brasil inteiro, seja federal, municipal ou estadual, voltar a se movimentar”, afirma.
Recomposição salarial
Durante o ato, servidores pediram pela recomposição de salários, já que estão com déficit desde 2010, com perdas entre 40% e 53%. “Nós recebemos um auxílio com composição emergencial de 9%, mas isso não resolve o problema da desvalorização do servidor público. Então pedimos para que o governo e o Congresso olhem para nós de forma diferenciada, já que o governo anterior desvalorizou totalmente o serviço público”, explicou Maria Rosaria Barbato.
A recomposição de 9%, feita no início de 2023, veio acrescida de uma promessa do governo, em manter diálogo com a recomposição prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), encaminhada ao Congresso. Mas, segundo Fábio Bezerra, o trato não foi cumprido. “Estamos reivindicando a continuidade da negociação e que possa ser implementado um reajuste justo em relação às perdas acumuladas nesses últimos seis anos”, reitera.
Contra as privatizações
David Landau, servidor da Justiça do Trabalho e membro do Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal no Estado de Minas Gerais (Sitraemg), lembra que o ato, em Minas Gerais, também se opõe às privatizações de estatais, como a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), a Companhia de Gás de Minas Gerais (Gasmig) e a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig).
“O capital, no momento que ele detém essas companhias, tem o poder de chantagem muito grande sobre o Estado, porque tudo depende de água, de energia elétrica, tanto as pessoas, quanto a economia e a indústria. A gente tem centenas de exemplos de países que reverteram a privatização. A gente não pode aceitar esse retrocesso”, protesta.
Maria Rosaria Barbato ressalta que a Copasa e a Cemig têm tarifas sociais que comportam reduções para população carente entre 40% e 65%, algo que pode acabar se as empresas forem privatizadas. “Nós estamos aqui para dizer não à privatização, para lutar junto com a população, porque esse país é nosso. País do povo brasileiro. E nós temos que preservar o setor público e o serviço público de qualidade”, sinaliza.
Edição: Larissa Costa