Minas Gerais

Coluna

Belicosidade e condição humana

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Foto de uma reunião do conselho de segurança da ONU - Foto: Bolívar Parra-Presidência da República
Conflitos têm sido resolvidos com violência. ONU é impotente

Depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), Einstein foi convidado, pela Liga das Nações, de estudar os motivos que levam a humanidade a constante situação de guerra. Einstein, então, propôs a institucionalização de entidade internacional que tivesse poder legislativo e judiciário, e tivesse força suficiente para obrigar as nações a cumprirem as determinações dela imanadas.

Como o assunto é demasiado complexo e exige interpretação da condição humana, Einstein convidou Freud para pensar com ele uma resposta à Liga das Nações, formulando a ele a seguinte questão: existe alguma forma de livrar a humanidade da ameaça de guerra?

Freud então, em carta, propõe a reunião com cientistas das diversas áreas do conhecimento humano para um debate nesse sentido. Para ele, direito e violência andam juntos.

 

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Os conflitos entre os humanos têm sido resolvidos pelo uso da violência. É a força que faz prevalecer à vontade. Isso é comum no reino animal, incluindo os humanos. Além dos impulsos instintivos, os humanos agem de forma abstrata, racional e emocional. Com o aparecimento das armas vencia aqueles que tivessem melhores armas. Os vencedores preferiam matar os vencidos para que eles não continuassem fazendo oposição. Os vencedores podiam, ao invés de matar, espoliar e escravizar os vencidos.

Uma lenda atribuída a Esopo, há 2700 anos, conta que o lobo estava bebendo água em um riacho. Quando viu uma ovelha, disse a ela: você está sujando a minha água. A ovelha respondeu: não é verdade, estou na parte de baixo. O lobo, então, disse que há dois anos ela falava mal dele, ao que a ovelha respondeu que ainda não tinha dois anos. Então foi seu irmão, disse o lobo, ao que ela respondeu que não tinha irmão. Sem outro argumento, o lobo disse: você tem razão, mas eu vou lhe comer assim mesmo. Moral da história: quando se age por instinto, o argumento racional não prevalece.

No final da Segunda Guerra Mundial, tudo foi feito conforme o ideal de Einstein. A Organização das Nações Unidas (ONU) foi instituída com seus tribunais, assembléias e conselhos. Houve a proclamação Universal dos Direitos Humanos e outras muitas iniciativas.

O Conselho de Segurança da ONU é composto pelas nações mais poderosas e ricas do planeta, que têm direito de vetar qualquer proposição que não lhes convenham. Logo no início da guerra de Israel contra a Palestina, o Brasil que preside o Conselho de Segurança da ONU, pediu o desbloqueio da Faixa de Gaza, para se abrir um corredor para escoar a população da referida área, evitando, assim, mortes de civis e crianças. O Brasil teve o êxito de conseguir, entre os 15 integrantes, 12 votos favoráveis e duas abstenções. No entanto, os EUA vetaram a proposta.

A proposta de Einstein e a análise de Freud se encontram nesta resolução. Qual das duas prevaleceu? Embora a ONU seja uma instituição necessária, ela é impotente.

Quando os mais poderosos da Terra utilizam a religião para manter o patriarcalismo; para afirmar que as mulheres são submissas aos homens; que Deus tem preferência por essa ou por aquela nação; que acumular fortunas é sinal de que Deus está gratificando ao possuidor; que é para satisfazer à vontade de Deus que uma nação massacra a outra na guerra, é porque a religiosidade tornou-se ideologia. Sendo assim, é a subjetividade motivando guerras, como Freud nos fala.

 

Antônio de Paiva Moura é autor do livro Médio Paraopeba e seu saber viver, professor de História, aposentado da UEMG e UNI-BH. Mestre em História pela PUC-RS

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Leia outros artigos de Antônio de Paiva Moura em sua coluna no Brasil de Fato MG

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Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

Edição: Elis Almeida