Crise sanitária mostrou rápida resposta das universidades
As universidades, faculdades e centros universitários se preparam para viver um novo momento. A resolução n°. 07 de 2018 do Conselho Nacional de Educação/MEC determinou que, a partir de 2023, todos os universitários precisam vivenciar as ações de extensão para se formar.
De acordo com o documento, os alunos devem cumprir 10% de atividades de extensão relativas às horas totais de seu curso. Portanto, um curso que possui 3.600 horas em seu currículo, os estudantes deverão ter uma certificação de 360 horas em atividades de extensão universitária.
A extensão universitária é um dos pilares da vida acadêmica e corresponde à relação do conhecimento produzido pelo ensino superior com a sociedade, em uma relação de mão dupla, onde a comunidade externa aprende e recebe saberes da universidade, mas também apresenta demandas à comunidade acadêmica que aprende e apreende as situações e problemas sociais e transforma em novos conhecimentos, teorias e metodologias.
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A extensão universitária é operacionalizada em diversas modalidades que permitem a participação dos diversos grupos sociais junto às instituições de ensino superior.
Dentre as ações de extensão, temos as orientações das Diretrizes para a Extensão na Educação Superior Brasileira (resolução 17/2018) do Ministério da Educação que determinam a execução da extensão universitária através de Programas, Projetos, Cursos/Oficinas, Eventos, Produção Acadêmica e Prestação de Serviços.
São modalidades de ações que inserem as comunidades externas às atividades das instituições de ensino superior, sejam elas grupos sociais de jovens, idosos, mulheres, crianças, indígenas, quilombolas, pessoas com deficiência, representantes de movimentos sociais, sindicatos, coletivos políticos e de cooperativas de trabalho ou grupos relacionados à gestão e execução de políticas públicas nas cidades (gestores e servidores).
Ensino, pesquisa e extensão
As universidades são definidas constitucionalmente como instituições que integram, necessariamente, o ensino, a pesquisa e a extensão. No entanto, o que se observa é que nem sempre há um equilíbrio da presença destas três dimensões na experiência universitária, com um claro prejuízo à extensão, principalmente, em termos de financiamento.
O contexto em que se discute a exigência de que as universidades assumam, definitivamente, a extensão universitária como parte formativa de todos os alunos de graduação é também um momento que se exalta a atuação da extensão universitária em resposta a situação catastrófica em que viveu o país.
A crise sanitária mostrou a capacidade de rápida resposta e de compromisso das instituições públicas, dentre elas as universidades, diante da responsabilidade de encontrar soluções para as questões sociais e econômicas que assolam a sociedade mundial.
São inúmeros exemplos de atividades que, ainda que, majoritariamente em regime remoto, não deixaram de atender as demandas sociais como: geração de renda para grupos de catadores de materiais recicláveis, atendimento psicossocial de grupos de idosos, adolescentes, crianças, acompanhamento de gestantes, produção de conteúdos diversos para comunicação por rádio, lives, redes sociais para que a informação e o acolhimento chegassem ao maior número possível de territórios.
Neste contexto, a extensão universitária cumpriu, com excelência, o seu objetivo institucional de diálogo com a sociedade e de transformação social e assumiu a posição solidária que esse momento exigiu. Diante das consequências das políticas de morte assumidas pelo Governo Federal, os problemas relacionados ao desemprego, a fome, a saúde mental, a mobilidade social foram abordados e atendidos por pesquisas e, principalmente, por ações de intervenção social por parte da comunidade universitária.
Enquanto os laboratórios das universidades e grupos de pesquisa se mobilizaram para buscar as soluções para a doença e se dedicaram a descobrir métodos, técnicas e produtos que mitigassem as causas e as sequelas da Covid-19, as equipes da extensão protagonizaram o atendimento aos impactos sociais, políticos e culturais, principalmente, em grupos e comunidades mais vulneráveis, por meio de programas, projetos, cursos, eventos e prestações de serviço por todo o país.
É por isso que a instalação do processo de curricularização da extensão significa que a universidade ampliará a sua capacidade de relação com a sociedade e poderá fazer mais para contribuir com a solução de desafios impostos a nossa humanidade. A maior presença da extensão nos currículos permitirá, ainda, que os alunos se formem, ao longo do seu curso, em sintonia com a vida e com as questões que desafiam as políticas públicas, as famílias, as relações de trabalho, o meio ambiente.
Nas discussões sobre a extensão universitária defende-se que a universidade pública deve assumir uma escolha política de atuar por uma sociedade mais justa, igualitária e democrática e, portanto, precisa formar profissionais cidadãos tecnicamente competentes e eticamente comprometidos com a sociedade. Assim, a extensão universitária, integrada as atividades de pesquisa e de ensino contribuirá, continuamente, para a mudança por dias melhores!
Monica Abranches é pós-doutoranda do Promestre FAE/UFMG e coordenadora do Projeto Rondon Minas e Vanessa Michaelsen Lago é advogada e coordenadora do Projeto Rondon Minas
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Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.
Edição: Elis Almeida