Sete meses já se passaram desde que o metrô de Belo Horizonte foi privatizado. Com o aumento na passagem e o atraso das obras prometidas, população critica falta de melhorias no transporte, atrasos constantes e superlotação em horário de pico.
O assessor parlamentar João Gualberto é usuário do metrô e afirma que até hoje a privatização não apresentou melhorias na qualidade do transporte. Para ele, depois que a Metrô BH assumiu o controle do transporte, há uma demora maior nos intervalos de chegada dos trens. Além disso, ele cita que a falta de manutenção tem ocasionado muitas paradas ao longo do trajeto.
“A minha indignação é que, no horário de pico, tenho que esperar vários trens passarem porque estão todos muito cheios e não consigo entrar. Além disso, o preço da tarifa do metrô está mais cara do que a do ônibus”, lamenta. “Eu preciso economizar para ter passagem suficiente para pagar o metrô”, completa.
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No dia 23 de março deste ano, o Grupo Comporte, vencedor do leilão que negociou o metrô por R$ 25,7 milhões, assinou o contrato de concessão e passou a controlar a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU-MG). Desde então, o metrô é administrado pela empresa Metrô BH.
O contrato de concessão prevê algumas responsabilidades para a Metro BH, como a ampliação da linha 1 em aproximadamente 2,45 quilômetros e a construção da estação Novo Eldorado. As obras que deveriam ter começado em agosto, em dez estações, foram adiadas para dezembro.
Outra obrigação da empresa é a construção da linha 2, com cerca de 10,5 quilômetros e sete estações, do Nova Suíça ao Barreiro. Segundo a Metrô BH, essas obras devem começar no ano que vem e finalizar apenas em outubro de 2027.
Para realizar as obras, a empresa contará com cerca de R$ 3,2 bilhões de recursos públicos, algo criticado por especialistas.
Tarifa cada vez mais cara
Em julho deste ano, o preço da tarifa saltou de R$ 4,50 para R$ 5,30, o que leva à diminuição na quantidade de passageiros, já que quanto mais cara, menos pessoas têm condições de pagar, explica Letícia Birchal, integrante do movimento Tarifa Zero BH.
Para a pesquisadora, a privatização, seguida do aumento da tarifa e da diminuição de usuários gera um ciclo vicioso, já que a empresa sempre busca a ampliação de seus lucros.
“Quanto maior a passagem, menos pessoas podem pagar, o que leva a novos aumentos para ‘fechar a conta’. Só que a conta nunca fecha, porque sobrecarrega o passageiro e não garante a qualidade no serviço”, defende.
Privatização causa exclusão social
Até o começo de maio de 2019, os passageiros pagavam R$ 1,80 pelo bilhete simples. Com o aumento exorbitante da tarifa, a população passa a se deslocar menos pela cidade, a andar longos trajetos a pé ou a utilizar outros meios de transporte, como carros e motos.
Para Letícia, além de dificultar o acesso das pessoas à cidade, a bens e serviços públicos, há o aumento da poluição e da sobrecarga no trânsito. “Toda a cidade sai perdendo”, pondera.
Em concordância com Letícia, Almir Duarte de Jesus, membro da diretoria do Sindicato dos Empregados em Transportes Metroviários e Conexos de Minas Gerais (Sindimetro-MG), acrescenta que é a população mais pobre que sofre os efeitos mais graves da privatização do transporte.
“Entendemos que o transporte público, como um todo, tem que ter um viés social, para favorecer as classes de menor poder aquisitivo. E sob uma administração do governo, sem visão de lucros, mas como retorno dos impostos que pagamos e que possa atender a população em geral”, ressalta Almir.
Transporte como direito social
Em 2015, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), apresentada pela deputada federal Luiza Erundina (PSOL), incluiu o transporte como direito social no texto da Constituição Federal.
Letícia Birchal explica que a luta pelo reconhecimento do transporte como direito é antiga e a aprovação da PEC foi uma vitória. Atualmente, porém, ela acredita que muitos passos ainda precisam ser dados para que esse direito seja efetivado.
“Isso passa não só pela luta contra a privatização, mas também pela desmercantilização do serviço público como um todo. Ou seja, o acesso não pode ser barrado pela condição financeira do cidadão que precisa se deslocar. A proposta da tarifa zero, ou seja, da gratuidade para todos os passageiros no momento do uso do transporte público, busca esse objetivo. Se é direito, deveria ser de todos e sem catracas”, argumenta.
Edição: Larissa Costa