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Crônica | Vicissitudes da vida

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Os pais achavam o menino fora do seu tempo. Parado

O menino ia crescendo e seus pais estavam preocupados com ele. A mãe o achava meio parado. O pai, também. A avó era mais realista:

— Ele não é nada disso que vocês estão falando. Ele é ele. Vocês que não convivem com ele.

A mãe indagou a avó:

— Como assim? Ele não sabe nem ler inglês ainda. Ele não sabe mexer no computador. Ele tirou uma nota ruim na prova de química. Acorda muito tarde. Pensa só em futebol.

A avó ficou muito “P” da vida e jogou na cara dela:

— Você num soube nem casar direito. Olha a praga com quem casou. Seu marido é uma pasmaceira. Num troca nem uma lâmpada na casa.

E as duas trocaram farpas até de madrugada.

A avó completou:

- Além disso, ele tem muitas coisas para ensinar para nós. Era bom vocês prestarem mais atenção nele. Negócio de vocês é ganhar dinheiro e beber no fim de semana.

A mãe deu de ombros e foi dormir. O pai ficou intrigado com a conversa das duas. Ficou calado o tempo todo. Não deu um pio sequer. Sabia que iria sobrar pra ele.

Os pais achavam o menino fora do seu tempo. Parado. Estavam até pensando em levá-lo ao psicólogo.

Um dia, o filho sumiu por muitas horas. Eles ficaram apreensivos e procuraram em todos os lugares possíveis e impossíveis.

Acharam o menino na casa do vizinho ensinando a seus amigos a divisão de seus brinquedos com os meninos mais pobres do bairro no dia de Natal.   

 

Rubinho Giaquinto é músico, escritor e militante do Coletivo Solidariedade Cidadã.

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Leia outras crônicas de Rubinho Giaquinto em sua coluna no Brasil de Fato MG!

 

Edição: Elis Almeida