Em um dos períodos mais quentes da história de Belo Horizonte, famílias de regiões periféricas da capital mineira sofrem com o racionamento e a falta de água. A situação afeta diversos bairros e comunidades, como o Taquaril, o Jardim Alvorada, Havaí, Morro das Pedras e o Morro do Papagaio.
Na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a situação não é diferente. Até o momento, nove municípios também relataram problemas de abastecimento hídrico.
A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) diz que o motivo do problema foi o aumento do consumo de água, devido às altas temperaturas, que chegam cada vez mais próximas aos 40 graus.
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Porém, para Júlio Fessô, que é presidente da Associação de Moradores do Morro do Papagaio, a justificativa não é plausível.
“Aqui não tem como aumentar o consumo, a não ser para beber. A gente não tem piscinas, grandes reservatórios ou caixa d'água gigante. Na realidade, muitas casas nem têm caixa d'água, porque o telhado não suporta o peso e falta de recursos”, avalia Júlio.
O líder comunitário conta que, às famílias que não têm condições de armazenar água restam apenas duas opções: recorrer à solidariedade de vizinhos ou buscar em bicas. Júlio conta que, com o calor, a situação tem ficado alarmante.
“As favelas por si só já são quentes. Muitas casas não têm saída de ar. Então, a situação está insuportável para as famílias, principalmente as que têm crianças”, indaga Júlio Fessô.
Impactos
A deputada estadual Andréia de Jesus (PT), que é nascida em Ribeirão das Neves, um dos municípios da RMBH afetados pela falta de abastecimento, explica que, além do cotidiano domiciliar das famílias, o funcionamento de equipamentos públicos também são impactados.
“Imagine não poder escovar os dentes, tomar banho ou sequer ter água para beber em meio ao calor intenso. As famílias enfrentam desafios diários, e a situação se agrava ao atingir o funcionamento de escolas, creches, unidades básicas de saúde e até mesmo os presídios”, comenta a parlamentar. “É uma injustiça que evidencia a urgência de políticas que garantam a igualdade no acesso à água”, complementa.
Política do governo Zema tem responsabilidade
Para Andréia de Jesus, a situação é fruto da política de desmonte da Copasa, promovida pelo governador Romeu Zema (Novo), que quer privatizar a empresa.
Neste momento, tramita na Assembleia Legislativa de Minas Gerais uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do estado, que busca retirar a obrigatoriedade de realização de um referendo popular para vender as empresas estatais estratégicas.
“Essa situação parece ser uma estratégia para manipular a população, criando a ilusão de que a privatização resolverá os problemas. No entanto, exemplos próximos, como a privatização da energia elétrica em São Paulo, mostram que essa não é a realidade, resultando em apagões e prejuízos”, avalia Andréia de Jesus.
“É mais do que urgente compreender que a água não é uma mercadoria, mas é um direito de cidadania e essencial à vida, além de uma obrigação do Estado”, finaliza a deputada.
Demissões e falta de investimento
Eduardo Pereira, que é presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos do Estado de Minas Gerais (Sindágua/MG), explica que o desmonte da Copasa, promovido pelo governador, vai da demissão de trabalhadores até a falta de investimentos na empresa.
“O governo Zema foi eleito prometendo privatizar a Copasa, dizendo que a empresa é ineficiente e que só serve para ‘cabide de emprego’. Daí ele iniciou um projeto de destruição. O governo demitiu 2 mil trabalhadores, terceirizou o serviço de leitura, unificou alguns distritos na RMBH, acabou com cinco distritos operacionais no estado e três superintendências. Zema prioriza os investidores e se esquece dos investimentos”, relata o sindicalista.
“A Copasa tem dinheiro e é uma empresa altamente lucrativa, mas, Zema não está nem aí. Por isso, ele não vai fazer os investimentos necessários para que não aconteça mais desabastecimento, como está acontecendo na RMBH. O governo Zema não está nem aí para o povo e não se importa com a falta de água”, complementa Eduardo Pereira.
Edição: Larissa Costa