“Foi uma vitória, porque transformou a nossa vida, uma parte do meu sustento e melhorou bastante a minha renda”, diz Maria do Patrocínio, moradora do município de Manga, no Norte de Minas Gerais, sobre o Projeto Cisternas, que comemora duas décadas de história neste ano.
A comunidade de Dona Nem, como é conhecida, foi beneficiada com uma cisterna de 16 mil litros em 2003. Antes disso, os moradores precisavam percorrer longos caminhos com baldes cheios de água equilibrados na cabeça para conseguir abastecer suas casas.
“Antes, a realidade era péssima, tinha muita dificuldade. Nos tempos de estiagem, não tinha local para armazenar água da chuva”, relembra Maria.
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No marco dos 20 anos do projeto, que tem o objetivo de garantir o acesso à água, o governo Lula (PT) anunciou a construção de novas 47.550 cisternas. Além dos municípios do semiárido mineiro, que ficam nas regiões Norte e Vale do Jequitinhonha, o programa também atua nos nove estados do Nordeste brasileiro.
Dados da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) indicam que aproximadamente 300 mil pessoas de Minas Gerais já foram beneficiadas pelas tecnologias do programa, com mais de 80 mil cisternas construídas, o que significa uma capacidade de estocagem de 1,2 milhão de metros cúbicos de água potável.
Das comunidades para as comunidades
Aline Silva de Souza, que é membro da coordenação técnica do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM), conta que o Programa Cisternas é a realização de um sonho, construído a partir das mãos e anseios das próprias comunidades.
“Já construímos um milhão de cisternas no semiárido brasileiro, junto com uma grande articulação de instituições e parceiros. No processo de construção das cisternas, a compra de materiais é feita nos fornecedores do município, além do envolvimento dos pedreiros locais. Ou seja, a execução gera uma dinamização da economia local. Então, a importância do programa é a sua forma de atuar, em rede, firmada com a realidade local e chegando na ‘ponta’”, avalia Aline.
A metodologia do programa, além de levar água para comunidades rurais de baixa renda e atingidas pela seca, busca ampliar a mobilização social, capacitar a população e contribuir para o aumento da autonomia das famílias.
Valmir Soares de Macedo, que é da coordenação mineira da ASA, que reúne mais de 100 organizações e impulsiona a experiência, explica que os resultados são impressionantes e levam, de forma simples, dignidade para o semiárido.
“São cisternas em escolas do campo, bancos de sementes crioulas e outras tantas ações. Água de beber e cozinhar, de produzir, sementes de antepassados, da segurança alimentar e nutricional, do saber popular. É a possibilidade de manter dignamente no campo, povos de comunidades tradicionais, que são essenciais na preservação do que ainda resta dos biomas como caatinga e cerrado”, relata.
Retomada
O programa passou por um duro período de desmonte e falta de investimentos durante os anos de Jair Bolsonaro à frente do país. Para se ter uma ideia, entre 2020 e 2022, foram construídas menos de 20 mil cisternas, enquanto apenas em 2015, durante a gestão de Dilma Rousseff (PT), 116 mil estruturas foram entregues à população.
Além disso, a gestão bolsonarista foi marcada pelo escândalo de que famílias pobres do semiárido mineiro foram cobradas pela instalação de cisternas, sendo que o orçamento do programa federal já cobria todos os custos.
Valquiria Alves Lima, que faz parte da Coordenação Nacional da ASA pelo estado de Minas Gerais, avalia que não existia vontade política do ex-presidente de dar continuidade à iniciativa. Ela conta que, como consequência, famílias voltaram a conviver com a insegurança hídrica e alimentar.
“A água é um elemento central para as famílias do semiárido. Sem a água, há a volta da fome, da insegurança alimentar e nutricional, da evasão escolar, do êxodo rural, do empobrecimento e da falta de dignidade”, complementa Valquíria.
Para a retomada do programa, o governo Lula investirá R$ 562 milhões.
Edição: Larissa Costa