A COP 28 escancara, mais uma vez, que o lucro está acima do planeta
A famosa frase de Chico Mendes, “ecologia sem luta de classes é jardinagem”, nunca foi tão atual. Os impactos ambientais negativos, em especial os relacionados às mudanças climáticas, recaem sobre grupos sociais marginalizados, como pessoas negras, periféricas, indígenas e quilombolas. O racismo ambiental é o resultado de uma combinação de fatores cruéis e inclui a desigualdade de classe, a discriminação racial e o impedimento de acesso à terra e aos recursos naturais.
A pesquisa “Igualdade climática: um planeta para os 99%”, divulgada pela Oxfam, escancara a desigualdade: o 1% mais rico do mundo foi responsável pela mesma quantidade das emissões globais de carbono do que os 66% mais pobres. A previsão para 2030 é que as emissões do 1% mais rico poderá ser 22 vezes superior ao limite seguro projetado para manter o aquecimento global abaixo de 1,5 graus.
A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2023 (COP 28) está longe de refletir com seriedade uma saída para emergência climática. O presidente da COP 28 é o sultão Ahmed Al-Jaber, líder da empresa estatal de petróleo de Abu Dhabi, que extrai cerca de 4 milhões de barris de petróleo por dia.
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Pior ainda é o espaço dado às empresas responsáveis pelos maiores crimes socioambientais do Brasil, como as mineradoras Braskem e Vale, para apresentarem suas propostas de combate à ebulição global e de transição energética. É escandaloso que os principais culpados sejam considerados lideranças que vão resolver a crise, tanto é que a Braskem cancelou sua participação depois da repercussão do colapso da mina em Maceió, que segue afundando a cidade.
O presidente Lula protagonizou um excelente discurso de abertura, em que denunciou os trilhões investidos em armas para as guerras, que alimentam o lucro de alguns, enquanto a prioridade deveria ser o combate à desigualdade social e climática. Também denuncia o racismo ambiental, porque as consequências não afetam os culpados, mas a parcela mais pobre, jovem e não-branca da população mundial.
Racismo ambiental
Segundo o estudo Desigualdades, Interdependência e Políticas Sociais no Brasil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as pessoas negras são mais propensas a viver em áreas com alta poluição do ar, da água e do solo. Além disso, elas têm menos acesso a serviços básicos, como saneamento e saúde, o que as torna mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas.
Lula afirmou que o Brasil está disposto a liderar pelo exemplo. No entanto, nos chama a atenção que, ao mesmo tempo, o presidente defendeu a participação do Brasil na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) como observador. Não há tempo a perder, precisamos de firmeza quando se trata de transição energética. A própria Petrobrás pode e deve ser fortalecida nesse sentido.
Ainda assim, não existe uma saída que não seja estrutural. A crise climática está diretamente ligada à crise capitalista. A COP 28 é apenas mais uma expressão dessa aguda contradição. Sabemos qual a solução: o planeta e os direitos humanos devem estar acima do lucro do 1%.
Efeitos nas cidades
Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revelou que as áreas periféricas de Belo Horizonte são as mais afetadas pela poluição do ar. Em alguns bairros, os níveis de poluição são até dez vezes superiores aos recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
As ondas de calor, cada vez mais frequentes, também afetam os territórios de forma diferente. Venda Nova é a região mais vulnerável às mudanças climáticas. Nos bairros Cenáculo, Europa e Minas Caixa, a temperatura chegou a ser 4,5 graus superior a outras regiões da cidade, como a Pampulha. Isso sem falar nas consequências das chuvas e em outros desdobramentos ambientais que afetam as periferias e, especialmente, o povo negro.
Outro exemplo é o acesso à água. As áreas periféricas, onde a população negra é maioria, têm acesso à água de má qualidade, que pode ser contaminada com esgoto, agrotóxicos ou outros poluentes. Ou ainda, durante as ondas de calor, há regiões onde frequentemente o acesso à água é suspenso sem nenhuma justificativa, a exemplo das periferias do Barreiro.
Enquanto isso, a Câmara de Belo Horizonte decidiu rejeitar os projetos de lei das mudanças climáticas e do empréstimo para obras de urbanização da região da Izidora, que garantiriam investimento no combate à vulnerabilidade social da região e na proteção ambiental.
Nas cidades sofremos as consequências concretas dos problemas ambientais. Também é nas cidades onde podemos construir soluções efetivas para resolver esses problemas. Uma dessas soluções, por exemplo, seria a expansão da tarifa zero e do investimento em transporte público de qualidade, afinal, é um direito da população. A tarifa zero impactaria diretamente na redução da quantidade de carros nas ruas, e melhoraria a qualidade de vida, do ar e do meio ambiente.
A saída para a crise climática é pela esquerda, é ecossocialista!
Iza Lourença é vereadora em BH pelo PSOL.
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Leia outros artigos de Iza Lourença em sua coluna no Brasil de Fato MG.
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Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.
Edição: Larissa Costa