A redução da cobertura vegetal implica menos sombra e umidade
A luta pela preservação do que sobrou das áreas verdes em Belo Horizonte é árdua, exige muito empenho das pessoas e entidades que se dedicam ao ativismo ambiental. Já dura mais de uma década a mobilização dos moradores do bairro São João Batista, na região de Venda Nova, pela criação do Parque Lareira. O que eles reivindicam é que o município tome providências para que um terreno de 35 mil metros quadrados, rico em nascentes, árvores e fauna diversificada, seja preservado.
Ao longo dos anos, a comunidade convive com a degradação da propriedade privada e vem sendo assombrada pelo barulho das motosserras na supressão de árvores de grande porte, além das queimadas e da ameaça de que a área verde dê lugar a um empreendimento imobiliário. Para pedir socorro ao poder público, os defensores da Mata Lareira fizeram uma manifestação no último dia 12 de dezembro, quando BH completou 126 anos.
Desde o início do nosso mandato, atuamos com muito vigor em parceria com os coletivos de plantios, ambientalistas e junto às comunidades, para que BH continue sendo merecedora do título de “cidade jardim”. Nosso esforço é para reverter um cenário muito preocupante. Dados do Sistema de Informações do Inventário da Arborização de Belo Horizonte (SIIA-BH) apontam que no ano passado a média foi de mais de 16 árvores suprimidas por dia na cidade, chegando a quase 6 mil supressões.
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A redução da cobertura vegetal implica menos sombra e umidade, formando ilhas de calor, o que afeta o microclima e agrava a situação de emergência climática em que estamos vivendo, com a capital dos mineiros batendo recordes de temperatura.
Nossa mais recente iniciativa foi abraçar a causa dos moradores do bairro São João Batista, como fizemos para conseguir que a prefeitura ampliasse o Parque do Bairro Trevo, na Pampulha, e preservasse a Mata do Jardim América, na região Oeste, entre outras agendas ambientais que participamos desde fevereiro, quando iniciou o nosso mandato.
Projeto de lei
No dia do aniversário de Belo Horizonte, apresentamos um projeto de lei na Câmara Municipal para que seja declarado o valor ecológico, paisagístico, cultural e comunitário da área conhecida como Mata Lareira. Nossa cidade merece esse presente, um importante passo para que o município reconheça a relevância do terreno para o microclima de BH e atue para a execução de medidas que possibilitem o resguardo da área como zona de proteção ambiental.
A criação do Parque Lareira, como almejam os moradores vizinhos à área verde delimitada pelas ruas Visconde de Taunay, João Calvino, Hye Ribeiro, Pastor Rui Franco e Engenheiro José Guimarães, no São João Batista, era o mesmo anseio de mais de uma década da comunidade próxima ao Parque Trevo, que passou de 24 mil para 52 mil metros quadrados no fim de outubro, possibilitando a maior preservação da cobertura vegetal do bairro apontado como o mais quente da cidade.
Pelo mesmo motivo, o Projeto de Lei (PL) 684/2023, em tramitação na Câmara com a nossa coautoria, propõe que seja declarado o valor ecológico, paisagístico, cultural e comunitário da Mata do Jardim América, delimitada pelas ruas Daniel de Carvalho, Gama Cerqueira, Sebastião de Barros e pela Avenida Barão Homem de Melo.
Diálogo com a comunidade e o Executivo
Ainda em relação à preservação da Mata Lareira, outras medidas foram adotadas pelo nosso mandato. Na véspera do aniversário de BH, apresentamos requerimentos na Comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana da Câmara Municipal para que o Executivo nos forneça informações e caminhe conosco para viabilizar a criação de mais um parque ecológico na cidade.
Em entrevista, o prefeito Fuad Noman já se comprometeu a fazer essa análise. Ficou aprovada uma visita técnica no dia 19 de dezembro no terreno do antigo Clube Lareira, com a presença de gestores da prefeitura.
Pedimos também informações sobre o funcionamento do clube e relativas às atuais medidas de preservação da área verde. Queremos promover um amplo debate com os moradores do São João Batista em audiência pública na Câmara, com a participação de representantes da prefeitura, certos de que conseguiremos avançar no diálogo para que a Mata da Lareira não continue sendo ceifada, da mesma forma que os animais que nela habitam, e que não sequem as nascentes tão necessárias para a qualidade de vida do povo de Venda Nova.
Wagner Ferreira é servidor público, diretor do Sindicato dos Servidores da Justiça de 2ª Instância do Estado de Minas Gerais (Sinjus-MG) e vereador de Belo Horizonte.
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Leia outros artigos de Wagner Ferreira em sua coluna para o Brasil de Fato MG.
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.
Edição: Larissa Costa