Enquanto milhões de pessoas foram às ruas em junho de 2013, nas jornadas de junho, a extrema direita fez mais gols contra os avanços sociais em curso, promovidas pelos governos de Lula e Dilma (ambos do PT), do que os 7 a 1 que levamos da Alemanha. Dez anos depois, o que começou como uma impressão, tornou-se informação científica: o número de famílias que moram nas ruas cresceu dez vezes em dez anos.

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Nos últimos dias, os jornais revelaram detalhes da pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ligado ao Ministério do Planejamento e Orçamento. O estudo revelou que pelo menos 47% dos brasileiros nessa situação dizem ter saído de casa por brigas familiares e pelo desemprego.

Homo sacer da atualidade

De acordo com o livro Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I, do filósofo italiano Giorgio Agamben, na antiguidade, aqueles que cometessem erros hediondos tornavam-se homo sacer, ou seja, eram banidos da comunidade, tinham seus bens queimados, e seus familiares eram obrigados a renegá-los como se jamais tivessem existido. Eram obrigados a se refugiarem nas florestas, onde ganhavam aparência animalesca. Seus cabelos, pelos e unhas cresciam.

Só eram vistos quando se aproximavam das fazendas em noites de lua cheia, quando tentavam furtar roupas esquecidas no varal para se aquecerem, ou galinhas e porcos para se alimentarem. A aparência era tão assustadora que eles passaram a ser chamados de loup garou, ou lobisomens.

Em uma triste analogia, as famílias em situação de rua brasileiras só são vistas quando pedem dinheiro e comida, assustando alguns transeuntes. Como resolver essa situação? Não sei. Mas quando tenho uma fruta, se posso comprar uma água, ofereço aos homo sacer. Participo das manifestações de esquerda, tento convencer as pessoas a julgarem menos e a ouvirem mais.

Tão importante quanto o lugar de fala é se tornar alguém que exerce o lugar de escuta.

 

Magali Simone é jornalista, professora de português designada em escola pública e doutora em Estudos de Linguagens pelo Cefet/MG.

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Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

Edição: Larissa Costa