Além da troca de presentes ou da mesa farta de comida, famílias mineiras acreditam que o melhor do Natal é poder reencontrar pessoas queridas, colocar o papo em dia e celebrar as conquistas do ano, que muitas vezes passam despercebidas com a correria do dia a dia. A data é um feriado cristão, quando se comemora o nascimento de Jesus Cristo.
Geralda Filomena de Oliveira Miranda, conhecida como Geraldina, vive em Santa Margarida, cidade da Zona da Mata mineira. Atualmente, suas duas filhas moram a mais de 250 quilômetros de distância, em Belo Horizonte, onde trabalham. Dessa forma, o Natal se transformou em um momento privilegiado de reunir toda a família e matar a saudade.
“Natal para mim é paz e muito amor, porque Deus deu para gente o melhor que ele tinha, que é o seu filho. Então, o Natal para mim é a família reunida, a gente conversando e falando um pouco sobre a vida. Às vezes, o ano passa tão rápido que a gente esquece de pensar nas coisas boas que aconteceram”, relata Geraldina.
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Memórias
Ela conta que, além de cear com a família na noite do dia 24 de dezembro, o dia seguinte é reservado para um almoço com a sua mãe, de 88 anos. Assim, mais do que refletir sobre o presente, o Natal também é uma oportunidade para revisitar lembranças felizes do passado.
“São muitas memórias boas, do meu pai na roça e da gente no terreiro brincando. A minha mãe assando frango no fogão a lenha, fazendo uma maionese e a gente esperando ela chamar para o almoço. Muitas vezes, a gente ficava ali agarrada no vestido dela, esperando que ficasse pronta a melhor maionese do mundo. Acho que nunca mais irei comer uma tão gostosa quanto aquela”, relembra.
A moradora de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), Maria Inez Santana Rick, de 77 anos, compartilha que uma de suas memórias preferidas é de quando seus pais eram vivos e faziam uma brincadeira para estimular as crianças a encontrarem os presentes.
“Eles escondiam presentes e a gente levantava cedinho para procurar. Quase não conseguíamos dormir à noite. Nós éramos uma família grande e meu pai fazia questão de comprar presentes para todo mundo, embora com dificuldades. Todo mundo recebia um presente e a gente rezava junto. Minha mãe era muito católica e fazia as orações. Então, eu tenho uma lembrança muito boa do Natal”, conta Maria Inez.
Receitas marcantes
As receitas familiares, passadas de geração em geração, são outra marca dos encontros dessa época do ano. Entre as suas preferidas, Geraldina destaca a compota de cidra que a mãe costumava preparar. “A gente chamava de ‘Queijo Verde’. Minha mãe fazia a compota de cidra, que ela chamava de ‘Cidrão’, muito gostosa, e a gente comia com o queijo. São lembranças boas”, comenta.
A auxiliar de professora e moradora de Sete Lagoas, também na RMBH, Adriana Fátima Santos Tomaz, de 54 anos, comenta que nas confraternizações de Natal da sua família, desde a infância, a comida mais marcante é a rabanada, um doce de pão de trigo frito ou assado.
“Quem fazia a rabanada era a minha tia, já falecida. Uma prima também sabe fazer. Quando era criança íamos sempre para casa dos meus avós. A família era bem grande. Hoje, para mim, o Natal é uma festa relacionada com a fé, a espiritualidade, um tempo para repensarmos o quanto estamos sendo fraternos”, relata Adriana.
Quando junta o natal com o ano novo
A dona de casa Virgínia Andrade Leite, que mora em São José do Buriti, distrito do município de Felixlândia, na região Central de Minas Gerais, conta que tem sete filhos, que também residem em outras cidades, e nem sempre dá para reunir todos eles ao mesmo tempo.
Para ela, o melhor é quando eles conseguem conciliar o Natal com o recesso de fim ano, fazendo da segunda metade de dezembro um momento de descanso em família.
“É uma família grande, mas sempre dá para encontrar com alguns. Quando vem para o natal e fica para o ano novo, ‘tudo combinadinho’, eu fico muito feliz. Eu deixo eles cozinharem e fazerem tudo, porque já estou idosa. O importante para mim é ver todo mundo reunido”, comenta Virgínia.
A trabalhadora autônoma Sonia Ramos, que mora na capital mineira, vê no Natal uma oportunidade de festejar e celebrar a vida das pessoas que ela ama. “Natal para mim é um momento sagrado, no qual devemos comemorar com a família. É época de união, perdão, alegria e renascimento. Gosto de estar junto e agradecer pela vida de cada um”, relata.
Partilha e solidariedade
Para a pedagoga e moradora do município de Ouro Branco Marlene Moreira Santos, de 50 anos, a data é sinônimo de partilha, solidariedade e comunhão, valores que acredita que deveriam ser cultivados durante todo o ano.
“Quando a gente pode dar presentes, damos, e quando não podemos, basta a alegria de estarmos juntos. Uma memória de Natal que marca muito a minha vida é de quando os meus pais eram vivos. Eu era criança e me lembro de todos eles reunidos, a família, os vizinhos, fazendo as nossas orações e confraternizando. Cada um levava alguma coisa. Eu acho que o Natal representa a partilha. É uma pena que, às vezes, a gente só pensa nisso nesta época do ano”, explica Marlene.
Maria Inez Santana Rick acredita que o Natal também é momento de agradecer pelas coisas boas e cultivar os sentimentos de um mundo mais justo. “É relembrar o verdadeiro sentido do Natal, agradecer a Deus por todas as coisas que aconteceram na nossa vida e pedir a ele que continue nos guiando, nos mostrando o caminho para um mundo melhor, para uma vida melhor”, conclui.
Edição: Larissa Costa