A democracia brasileira resistiu. Mas ainda está em risco
Um ano atrás os fascistas tentaram um golpe de Estado para sepultar de vez a (ainda) frágil democracia brasileira.
Fracassaram, mas o perigo não passou.
Para um golpe antidemocrático funcionar é necessário: 1) apoio, ou no mínimo, condescendência, externa; 2) apoio majoritário das elites internas; 3) desmobilização, ou mobilização insuficiente, da resistência popular.
Em 1964 e 2016 tivemos as três condições. Em 8 de janeiro de 2023 não houve as condições um e dois.
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Mesmo assim, os aloprados da extrema direita tentaram.
Um ano após a tentativa, só quem está preso e condenado são os bagrinhos. Seguem sem punição os militares, as lideranças e autoridades que participaram diretamente, ou por conivência, do evento, a começar do ex-presidente, obviamente mentor intelectual e principal beneficiário caso o golpe funcionasse. Das forças de segurança pouquíssimos foram punidos, somente policiais militares do DF. E o atual ministro da Defesa é um reiterado bajulador dos militares.
A tentativa gerou forte reação contrária - 94% dos brasileiros a reprovavam em fevereiro de 2023, 89% agora. Mas não diminuiu a força da extrema direita. 43% dos brasileiros, segundo a pesquisa da Quaest, acham que o ex-presidente não esteve envolvido na baderna de 8 de janeiro. A narrativa absurda de que o próprio governo Lula organizou a quebradeira em Brasília, para se fazer de vítima, foi acatada por muitos seguidores da extrema direita - surpresa alguma, esse pessoal sofreu lavagem cerebral.
O que mostra que o fascismo continua com seu oxigênio: as redes sociais completamente desreguladas. Em maio do ano passado, as big techs, plataformas como a Google, se uniram à direita e derrubaram o projeto de lei que visava trazer alguma decência e civilidade às redes, alegando que ele traria "censura".
Eleições 2024
Gostaria de estar errado, mas penso que as eleições municipais deste ano serão uma verdadeira lambança de fake news, com a IA comendo solta para gerar conteúdos cada vez mais convincentes destinados a um público estacionado na falta de crítica e preparo - uma festa para os criminosos fascistas.
Para lembrar o aniversário de um ano da tentativa de golpe, o governo chamou hoje várias autoridades em Brasília. Mas não chamou o povo às ruas.
Sim, a democracia brasileira resistiu.
Mas ainda está em risco.
Rubens Goyatá Campante é doutor em Sociologia pela UFMG e pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (Cerbras).
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Leia outros artigos de Rubens Goyatá Campante em sua coluna no Brasil de Fato MG
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.
Edição: Elis Almeida