Além do histórico de resistência, o carnaval de Belo Horizonte tem assumido cada vez mais para si a marca da diversidade. Neste ano, a expectativa é de que 5,5 milhões de foliões ocupem as ruas da capital mineira. De todas as idades, cores, raças e gêneros, a festa tem ganhado cada vez mais opções no município.
Com apenas seis anos, Maria Flor Gomes de Miranda, já participou de três bloquinhos nesta edição da folia: “Então Planta”, “Fera Neném” e “Andacumfé”. Mesmo com a pouca idade, a pequena já sabe quais são as suas preferências.
“Eu gosto das músicas, das máscaras de colocar no rosto, de encontrar outras crianças e das brincadeiras”, relata a menina.
Para a mãe, Laíssa Miranda, de 36 anos, ter garantida uma programação voltada para as crianças é uma das características que torna o carnaval de Belo Horizonte popular.
“É uma festa do povo, democrática, de todo mundo. Por isso, precisa incluir as crianças, que também são sujeitos políticos. Além disso, para nós, mães, que poderíamos não conseguir curtir a festa por conta dos filhos, é muito importante ter estrutura e opções. Isso permite a gente se divertir e criar memórias afetivas com as nossas crianças”, avalia Laíssa.
Bloquinho feito para e pelas crianças
Outro exemplo de bloquinho voltado para o público infantil é o “Pé com pé”, que surgiu pela vontade das próprias crianças de uma escola do bairro Dom Cabral, que fica na região Noroeste da cidade, e desfilou pela segunda vez neste ano.
As famílias já tinham o hábito de se reunirem semanalmente em uma praça com as crianças. Desse convívio, nasceu a ideia de formar o bloco. É o que explica Débora de Sena Oliveira, que produz a iniciativa.
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“As crianças tinham aulas de pandeiro na escola e a gente começou a sentir a necessidade de colocar essas crianças no carnaval de forma ativa, que elas fizessem a festa tocando e se envolvendo em outras tarefas dentro de um bloco. A bateria é composta por crianças e seus familiares. É muito importante que elas possam ocupar a festa, porque elas são parte da sociedade”, relata Débora.
Meio século na folia
Maurício Paes Fernandes, de 72 anos, conta que começou a frequentar o carnaval quando tinha apenas 20 anos. Ele acompanhou o desenvolvimento da festa em Belo Horizonte e, mesmo nutrindo um profundo carinho pelo evento ao longo dessas cinco décadas, o aposentado acredita que a folia do município está em seu melhor momento.
“Antigamente não tinha muitas coisas. Um ou outro bloquinho. A gente tinha o costume de ir para cidades da região metropolitana, como Nova Lima. Agora, o carnaval de Belo Horizonte está muito maior. Mesmo já idoso, eu faço questão de sair todos os anos para me divertir”, conta.
Atualmente, o bloco preferido de Maurício é o “Todo Mundo Cabe no Mundo”, que desfila no bairro Santa Efigênia, com um repertório que vai do axé ao pop, passando pela MPB.
“É um bloco que tem gente mais nova, gente mais velha, pessoas com deficiência e todo o tipo de folião. O que eu mais gosto é a diversidade”, destaca.
Programação intensa
Neste ano, mais de 500 blocos de rua desfilam no carnaval da capital, ao longo do período oficial de 23 dias. Além dos já considerados tradicionais, existem muitos outros blocos que chamam a atenção pela autenticidade e pelas bandeiras que levantam.
É o caso, por exemplo, do “Bloco da Bicicletinha”, que reúne foliões que andam de bicicleta fantasiados pela cidade. Tem também o “Volta, Belchior”, que desde 2016 reúne fãs do artista para homenageá-lo.
Outra marca da diversidade da festa são os blocos auto-organizados de negros e negras, mulheres e LGBTQIA+, como o “Angola Janga”, a “Truck do Desejo” e o “Clandestinas”.
Bruna Martins, de 20 anos, conta que durante os dias de carnaval sua programação é intensa, com uma média de pelo menos cinco blocos por dia.
“Eu acordo, tomo café da manhã e já saio de casa bem cedinho. Fico o dia inteiro na rua, transitando entre os blocos que eu já gosto e conhecendo novos. Meus preferidos são o ‘Juventude Bronzeada’ e o ‘Abalô-caxi’”, relata.
Escolas de samba
No dia 13 de fevereiro, o carnaval da capital mineira também abre espaço para o desfile das escolas de samba. Ao todo, são oito agremiações, representando diferentes regiões do município, no grupo especial.
Neste ano, os samba-enredos tratam de temas como os 50 anos da relação diplomática entre Brasil e China, o sertão mineiro, o barroco e a mãe terra.
A programação oficial do carnaval de Belo Horizonte pode ser consultada no site da prefeitura.
Edição: Larissa Costa