Minas Gerais

MACHISMO

Pesquisadoras de MG relatam desafios das mulheres na ciência

No dia 11 de fevereiro, é comemorado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Créditos - TV Brasil

Desde 2016, é comemorado no dia 11 de fevereiro o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Espaço considerado historicamente masculinizado, as mulheres enfrentam uma série de desafios ao decidirem seguir a carreira científica. Ao mesmo tempo, elas transformam as instituições de ensino e pesquisa ao ocupá-las. 

Verônica Soares da Costa é pesquisadora sobre comunicação e ciência, doutora em comunicação social e professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Ela relata que as dificuldades começam ainda quando as mulheres buscam entrar na carreira científica.

Para a professora da PUC, mesmo com o aumento da presença feminina nas universidades, isso não refletiu em uma maior presença das mulheres em cargos de chefia, que definem, por exemplo, a destinação das bolsas acadêmicas. 

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“Os desafios começam com a dificuldade de entrar na carreira. Desde muito pequenas, as meninas são segregadas em relação a determinados saberes e qualificações. Os meninos são, por exemplo, muito mais incentivados a terem um pensamento matemático. O estereótipo de que meninas não são boas em matemática e física, por exemplo, entra também nas nossas escolas e nossas casas”, complementa. 

Enquanto isso, segundo a pesquisadora, a sociedade incentiva que as mulheres assumam profissões mais associadas ao cuidado, como a enfermagem e a pedagogia. 

“Por séculos, separam a ideia de homem e mulher da mesma forma que separamos o racional do emocional, o objetivo do subjetivo. Historicamente, sempre foram associados ao masculino os valores e características que também são mais associados à ciência. Essas ideias remontam ao período do iluminismo, mas têm reverberação até nos dias de hoje”, avalia Verônica. 

Isis Silva Rosa é mãe de dois filhos, professora da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), doutora em educação, pesquisadora do Núcleo de Estudos Afrobrasieiros e Indígenas da UFOP e integrante do coletivo Andorinhas, que é um grupo de mulheres da instituição que trata de assuntos relacionados às assimetrias de gênero. 

Ela destaca que, para as mulheres negras pesquisadoras, o cenário é ainda mais complexo, pois, além do machismo, elas lidam com a reprodução da estrutura racista, ao romperem com o espaço socialmente reservado para elas. Isis comenta que a realidade é marcada por ataques, assédio, cobranças e invalidação. 

“Estando nas universidades, é um desafio lidar com as estruturas nas quais as instituições foram organizadas, que são tratadas como objetivas e universais, mas que foram pensadas a partir de uma lógica eurocêntrica, branca, elitista, machista e que limita o espaço para outras formas de pesquisa e produção de conhecimento”, argumenta. 

“Para as mulheres negras é um desafio terem suas produções científicas reconhecidas e validadas. Eu considero, como pesquisadora negra, esse o principal desafio. Já existe um estereótipo que subalterniza a priori as pesquisas realizadas por nós. Os currículos das universidades, por exemplo, são compostos basicamente por referências masculinas ”, complementa Isis. 

Alternativas

Diante desse cenário, as pesquisadoras acreditam que é preciso empenho da sociedade e das instituições para tornar o espaço da produção científica mais acolhedor para as mulheres. 

Verônica enfatiza que é importante que sejam fomentados espaços seguros de debate, discussão e permanência de jovens que têm interesse em seguir carreira científica. 

“Entender as particularidades da disponibilidade, por exemplo, de uma bolsista mulher, em comparação com um bolsista homem. Muitas vezes essa mulher tem outras responsabilidades de cuidado com a família e a própria casa”, comenta.

Isis destaca que as políticas de ações afirmativas são eficazes no combate à baixa representatividade de mulheres nos espaços de poder e prestígio social. Para ela, as instituições devem apostar na implementação e no fortalecimento dessas políticas. 

“Seria importante o estímulo à criação e organização de núcleos de pesquisa e coletivos que tratem sobre a temática, a garantia de representatividade de raça, gênero e sexualidade nos diferentes espaços de poder das universidades e das agências de pesquisa e o lançamento de editais específicos voltados para as mulheres, entre outras medidas”, conclui a professora da UFOP.

 

Edição: Larissa Costa