Inúmeros problemas têm sido apontados por usuários do metrô de Belo Horizonte desde sua privatização, oficializada em março de 2023. Atrasos constantes, superlotação e paradas demoradas entre estações são alguns deles.
Na última segunda-feira (26), por exemplo, alguns passageiros foram surpreendidos com um aviso, na porta das estações, de que o transporte operaria de forma parcial, com intervalo de 50 minutos por viagem.
Esse tem sido um desafio constante para a consultora de vendas Helen Bento, que utiliza o metrô de segunda à sexta, e sempre encontra obstáculos pelo caminho. Segundo ela, desde que o transporte foi concedido à iniciativa privada, não houve melhorias.
“Inclusive, para mim, teve uma piora. Sempre utilizei o metrô, há mais ou menos quatro anos, e antigamente não dava tanto problema”, lamenta. “Essas reduções [no horário] que eles fazem ocasionalmente me atrasam para o trabalho”, completa.
A negociação de venda aconteceu por mediação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), em dezembro de 2022, quando o grupo Comporte efetuou a compra da antiga Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) por R$ 25,7 milhões.
Falta manutenção preventiva
De acordo com Daniel Carvalho, um dos diretores do do Sindicato dos Metroviários de Minas Gerais (Sindimetro), os constantes atrasos e a lentidão dos trens têm sido ocasionados, na maioria das vezes, pela precarização da manutenção da via permanente.
Para ele, a Metrô BH, empresa que administra o transporte, tem priorizado as obras de expansão do sistema, em detrimento da qualidade de seu funcionamento.
“A Metrô BH tem direcionado seus esforços para a manutenção corretiva da via, o que tem gerado, em parte, essa lentidão e esses atrasos de viagem”, explica.
Com o corte de funcionários após a privatização, segundo Daniel, parte da mão de obra especializada ficou comprometida. Desta forma, a manutenção preventiva foi precarizada, como a revisão de sistemas, troca de equipamentos, sinalização e via permanente, conta o sindicalista.
Problemas viraram rotina para usuários
O técnico de TI Guilherme Augusto Ferreira, morador de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), teve que repensar sua rota na volta do trabalho para casa devido aos constantes problemas enfrentados no metrô. O que antes serviria como um meio mais rápido para o retorno, hoje foi substituído pelo ônibus.
Segundo ele, a operação dos trens tem ocorrido de forma contrária ao quadro de horários estabelecido. “Por exemplo: o metrô que deveria passar às 16h20 não passa, e vem apenas às 16h40, ficando muito lotado por causa disso. E muitas vezes, no meio da viagem, o metrô para em alguma estação e fica vários minutos parado na linha, aguardando algum outro trem passar no sentido oposto”, relata.
Quem enfrenta o mesmo problema é a empregada doméstica Liliane Monteiro, que, além de enfrentar a superlotação dos vagões de segunda à sexta para ir ao trabalho, também vive, continuamente, sob o risco de se atrasar para o compromisso.
“Ficou pior. Tenho que sair mais cedo todos dias para não chegar atrasada no serviço porque sempre acontece alguma coisa, ou ele atrasa ou a velocidade é reduzida em alguns trechos”, observa.
Em janeiro deste ano, passageiros precisaram descer em linha férrea após pane elétrica no metrô de BH. Segundo a empresa, os problemas foram causados devido a uma descarga elétrica que atingiu parte do sistema metroviário de BH.
À época, a Metrô BH determinou um intervalo de 15 minutos nos horários de pico e 20 minutos no restante do dia.
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Segurança comprometida
Daniel Carvalho aponta um aumento na ocorrência de invasões às estações de metrô em dias de alta demanda e o descumprimento das regras de gratuidade, o que, para ele, reforça a falta de planejamento para grandes eventos e ratifica a ausência de empregados operativos nas estações e na segurança.
Isso tem ocorrido, segundo ele, devido à precarização das relações de trabalho, cortes salariais e aumento das jornadas de trabalho, que são exaustivas.
“Parte desses funcionários saiu no Plano de Demissão Voluntária (PDV) e não foram repostos nessas áreas. Dessa forma, a segurança está fazendo, hoje, acúmulo de função com a linha de bloqueio, que a conferência das gratuidades. Em grande parte dessas estações, às vezes tem um empregado para fazer esse monitoramento, o que é insuficiente, inclusive para os dias de funcionamento normal”, critica.
Outro lado
Procurada pela reportagem, a Metrô BH informou que, na segunda-feira (26), houve um problema técnico no sistema, que foi solucionado e manteve a operação normalizada a partir das 8h40. Os demais questionamentos enviados pela reportagem não foram respondidos. O espaço segue aberto para manifestações.
Edição: Leonardo Fernandes