A mineradora Vale conseguiu autorização judicial para impedir o enterro do cacique Merong Kamakã Mongoió, de 36 anos, em Brumadinho (MG). Merong foi líder da comunidade indígena Kamakã, uma das etnias dos povos Pataxó Hã-hã-hãe.
Mesmo assim, o enterro aconteceu durante a madrugada desta quarta-feira (6). A cerimônia ocorreu em uma área de retomada reivindicada como de ocupação tradicional pelos indígenas, mas que é alvo de uma ação reintegração de posse pela Vale.
A pedido da mineradora, a juíza Geneviève Grossi Ors, da 8ª Vara Federal Cível de Belo Horizonte, chegou a autorizar o uso da força pelas polícias Militar e Federal para barrar o sepultamento.
Na decisão, a juíza determinou "que seja impedida a realização do sepultamento do Sr. Merong Kamakã, nas terras objeto desta ação, ante a notória controvérsia acerca da titularidade das terras objeto desta ação", diz a medida cautelar assinada por ela.
O Brasil de Fato aguarda posicionamento da Vale.
Decisão ataca direitos humanos, diz deputada
A deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG) declarou que acionou o Ministério Público Federal (MPF). Segundo a parlamentar, o MPF contestou a decisão judicial e pediu que o direito de realizar o enterro conforme as tradições do povo indígena fosse reconhecido.
"Negar o sepultamento ataca não só nossos direitos humanos fundamentais, mas também os direitos indígenas garantidos pela Constituição Brasileira e por pactos internacionais. É absurdo tentarem reprimir o luto da família de Merong!", publicou a deputada.
No plenário da Câmara dos Deputados, a deputada federal Duda Salabert (PDT-MG) lembrou do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG). "Já não bastasse ter matado 272 pessoas, a Vale tenta matar o luto [pela morte do cacique Merong]", declarou.
PM apontou suicídio, mas pessoas próximas veem hipótese de assassinato
Líder da retomada indígena Kamakã Mongoió, o cacique Merong Kamakã foi encontrado morto em casa na segunda-feira (4) em Brumadinho (MG).
O boletim de ocorrência feito pela Polícia Militar (PM) apontou suicídio, mas lideranças indígenas e amigos do cacique levantaram a hipótese de assassinato.
"O cacique Merong foi assassinado", disse ao Brasil de Fato MG o frei Gilvander Moreira, assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e uma das pessoas próximas do cacique Mergong.
"Ele me disse que se ele aparecesse morto, alguém o teria bombado na luta, pois ele me disse que jamais suicidaria, pois era guiado pelo grande espírito, por Tupã, para salvar a humanidade, o que passaria necessariamente por frear as mineradoras, o agronegócio e superar o capitalismo", completou Moreira.