O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) pode estar ameaçado em Belo Horizonte. Depois de uma nova empresa vencer o contrato de licitação para administrar o serviço, condutores dos veículos denunciam perda salarial de cerca de 42% e marcam manifestação para esta terça-feira (22), data em que também vão decidir sobre a paralisação das atividades.
Chamada de “Ato em defesa do SAMU”, a mobilização acontece a partir de 12h com uma passeata que vai da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) até a Secretaria Municipal de Saúde. Os trabalhadores denunciam as graves consequências da medida para a qualidade do atendimento e a continuidade do serviço na cidade. A categoria levanta hipótese de greve caso a situação não seja resolvida administrativamente.
O ato acontece no mesmo horário de uma reunião entre o Executivo e a empresa, para tratar do assunto, a pedido do superintendente regional do trabalho, Carlos Calazans.
Entenda a situação
A empresa que arrematou o pregão realizado pela PBH foi a Litoral Med Serviços Médicos LTDA, que oferece aos condutores socorristas um salário bruto de R$2.075,99, acrescido de insalubridade, sem outros benefícios.
O valor representa uma redução de 42% em relação aos R$3.576,00 pagos anteriormente, somando salário e demais benefícios, e pode ficar ainda menor se considerar os descontos obrigatórios como INSS e imposto de renda. Com esse cálculo, o salário líquido deve chegar a aproximadamente R$1.932,76.
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O contrato também retira benefícios como vale-refeição, cesta básica, auxílio-combustível e planos médico e odontológico.
Na avaliação do condutor Willian Fernandes, a medida reflete a desvalorização dos profissionais.
“O primeiro impacto é psicológico. Não conseguiremos cuidar da nossa família com um salário desse. As contas não batem. O salário não condiz com a extrema importância da profissão. Quem não aceitar, consequentemente não será aceito na nova empresa. É jogar anos de experiência no lixo”, lamenta.
O técnico de enfermagem Flávio José de Sousa, que trabalha no SAMU há mais de 12 anos, reforça que, sem a experiência e a destreza dos condutores, acumuladas em anos de trabalho realizado no tráfego de BH, a saúde na cidade corre perigo.
“A maioria dos condutores não vai ficar diante desse salário ‘ridículo’ que estão oferecendo. Eles irão para outra empresa. Com isso, outros motoristas que não têm experiência nenhuma, nem em condução de veículos de emergência, nem em primeiros socorros, vão assumir o serviço pré-hospitalar de emergência sem nenhuma capacidade”, pondera.
Possível greve
O vereador Bruno Pedralva (PT), que denunciou o caso ao Ministério Público do Trabalho (MPT), afirmou que há grande chance de haver uma greve espontânea da categoria, caso o salário proposto seja mantido pela empresa.
“Fazemos um apelo à Prefeitura de Belo Horizonte para que assuma a responsabilidade de mediar essa situação e garantir o respeito e a não redução salarial para os motoristas que conduzem as ambulância do SAMU em BH, senão a gente pode ter uma grande crise”, acrescenta.
Outro lado
Procurada pela reportagem, a PBH informou que todas as questões trabalhistas são de responsabilidade da Litoral Med Serviços Médicos Ltda com seus funcionários, o que também envolve o sindicato da categoria.
O Brasil de Fato MG também tentou contato com a empresa Litoral Med e aguarda posicionamento.
Edição: Leonardo Fernandes