O velho estilingue agora era o zap dessa molecada
O garoto era todo estressado. Não saía do seu quarto. Comia o tempo todo. Seu quarto era escuro e só a luz dos eletrônicos iluminava alguma coisa.
A mãe não sabia mais o que fazer para ajudá-lo a ir brincar, jogar bola, nadar. Ele só queria ficar no quarto com celular, notebook e videogame.
Um dia, a mãe teve que operar às pressas de uma doença muito grave. Ela iria passar quase um ano internada. Não havia ninguém para cuidar do menino. Ele teve que ir morar com a avó num lugarejo bem distante da capital.
Para sua surpresa, lá não tinha internet. Não tinha celular. Não tinha sinal de wi-fi. Ele ficou choramingando pelos cantos do sítio da avó. Descobriu também que iria acordar cedo para ajudar a cuidar das galinhas, cachorros, pássaros e do pomar. Era uma vida nova para aquele menino mimado, chato e avesso a qualquer mudança de rotina. Também não tinha mais aquelas bolachas industrializadas.
O tempo passou e ele foi se adaptando a sua nova vida da roça. Ele já sabia todos os nomes dos bichos de lá.
A mãe chegou de surpresa para levá-lo de volta pra casa. Foi uma alegria imensa e também uma tristeza. Ele não queria ir embora. Era completamente outra pessoa. Estava corado. Subia em árvores. Dormia cedo. Viciou em comer frutas tiradas do pé. Mas teve de voltar para a cidade grande.
Sua mãe reparou que ele não ficava mais no quarto de jeito nenhum. Ela também reparou que ele tinha um objeto que mostrava pra todo mundo e que virou febre no prédio de classe média daquela molecada.
Ele trouxe o estilingue que ganhou do velho vaqueiro do sítio. Agora a molecada dos apartamentos estava deslumbrada com o velho estilingue. Fizeram até um campeonato de derrubar garrafas pets usadas. O velho estilingue agora era o zap dessa molecada.
Rubinho Giaquinto é músico, escritor e militante do Coletivo Solidariedade Cidadã
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Leia outras crônicas de Rubinho Giaquinto em sua coluna no Brasil de Fato MG
Edição: Elis Almeida