Minas Gerais

Coluna

Professores: problema ou solução para a educação?

Reprodução: Agência Senado - Foto: Valdir Rocha
Se professores tivessem centralidade, teríamos melhores salários e condições de trabalho

Em minha prática profissional na educação, estou atenta aos debates sobre a chamada “crise das licenciaturas”. De outro lado, nas pesquisas que tenho realizado ou acompanhado, percebo que as políticas educacionais, a partir de meados do século passado, assentam-se numa perspectiva de certa forma contraditória, uma vez que as professoras e os professores são anunciados, ora como a solução, ora como o problema da educação.

Quanto ao primeiro aspecto, os docentes seriam a solução da educação na medida em que as mudanças prescritas nas tentativas de reforma da escola teriam êxito apenas quando por eles apropriadas, a ponto de estarem presentes, de modo sistemático, em suas práticas cotidianas. Contraditoriamente, os docentes seriam um problema, pois o insucesso das reformas educacionais se daria especialmente pela falta de professores capacitados e comprometidos. Como se pode ver, essas são assertivas que compõem um passado presente.

A dita centralidade dos professores na sociedade é invocada com frequência. Como se as professoras e os professores, e sua formação, fossem o pilar da educação e da escola, mas somente quando conveniente. Concordo que sejam muito importantes. Essa é, inclusive, uma das minhas preocupações de pesquisa, além da mais longeva. Mas não parecem ter centralidade em nossa sociedade.
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Se professores tivessem centralidade, teríamos melhores salários e condições de trabalho, contaríamos com maior respeito e prestígio, haveria quem se interessasse por nossa rotina, e quem tivesse curiosidade sobre como nos sentimos desenvolvendo a complexa função de formação das novas gerações.

Anunciada de modo certamente nada desinteressado, a centralidade dos professores e de sua formação continua sendo pauta. Não faltam ‘autoridades’, discursos e números mostrando que o grande problema da educação brasileira, e sua dita baixa qualidade, são os professores e sua inadequada formação. Ou seja, na escola, especialmente na escola básica pública, as coisas vão mal porque a nós, docentes, falta formação.

No ano passado, completei duas décadas na educação. Vivenciei parte desse tempo como profissional da educação básica, e outra, da superior. Algumas vezes, estive nos dois espaços de atuação de forma concomitante. A professora que existe em mim não pode deixar de ficar incomodada com a afirmação de que o grande problema da educação brasileira são os professores e sua inadequada formação. Ou, dizendo de modo menos passional, a professora que existe em mim não pode deixar de desconfiar da coerência da afirmação.
Falta formação! Falta qualidade ao trabalho docente! Talvez em algum momento, quando iniciante e de modo um tanto ingênuo, eu concordasse com isso, dito desse jeito. Não é mais o caso! Conheço muitos professores e professoras a quem não falta formação, seja no aspecto qualitativo, seja no quantitativo. Mas a eles faltam, isso sim, condições de trabalho. E nos mais diversos aspectos.

Hoje, com minha formação e experiência na educação, acerca do conhecido argumento da “falta de formação docente” eu diria que, antes: Faltam condições de trabalho! Falta estrutura! Falta carreira! Falta respeito! Falta ajuda! Falta salário! Falta força! Em muitos dias, falta também esperança! Falta apreço pelo conhecimento, que é algo central no trabalho de quem ensina e aprende!

Talvez, antes da falta de formação ou concomitante à preocupação com ela, pudessem as ‘autoridades’ e aqueles que gostam de opinar sobre a educação escolar se ocupar dessas tantas outras faltas! A escola, os estudantes, suas famílias, os professores e a sociedade certamente sairiam ganhando.

 

 

Elaine A. Teixeira Pereira é pedagoga, doutora em Educação e professora da Educação Básica em São Lourenço do Oeste/SC. É integrante do grupo Portal do Bicentenário, linha de pesquisa “Portal do Bicentenário – 200 anos de Escolas Públicas no Sul”.

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Edição: Leonardo Fernandes