Fama de desconfiado vem dos tempos coloniais
O acesso à educação de qualidade, da infância à idade adulta, é importante para o desenvolvimento intelectual, físico, social e econômica. A educação é fundamental e indispensável na consecução do bem-estar social e equilíbrio psicológico dos indivíduos.
Marcos Rolim, sociólogo gaúcho, mostrou a relação da evasão escolar com a delinquência juvenil, assassinatos, violência doméstica, uso e tráfico de drogas. Além disso, os semi-analfabetos não têm condição de reagir de forma salutar às exigências da vida e o modo como harmonizam seus desejos. É aí que reside a maioria dos distúrbios mentais.
Segundo dados da Unesco, 36% dos jovens da América Latina não alcançam os níveis exigidos de proficiência em leitura. Somente Porto Rico está no 29º lugar na classificação dos mais bem alfabetizados do mundo. Os demais países estão abaixo do 40º lugar, inclusive o Brasil. Isso corresponde, em parte, ao fato de países como Haiti, México, Colômbia, Venezuela, Honduras, Equador e Brasil serem considerados os países mais violentos do mundo e, também, com menores pontuações no IDH Índice de Desenvolvimento Humano.
Por outro lado, os países em que 100% da população é alfabetizada e o ensino superior disponível à maior parte; que têm os maiores IDHs do mundo, como Suíça, Noruega e Suécia, são também os que contam com os menores índices de delinquência. Por coincidência ou não, esses países são os que menos desenvolvem a mentalidade de guerra.
O que acontece com os países que foram colônias, que continuaram dependentes de outras potências, é a interferência em sua formação cultural, com consequências danosas no processo educacional.
A tradição assume relevância em uma educação com responsabilidade ética-política com os educandos. Os modernistas brasileiros, a exemplo de Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade valorizavam as tradições como defesa das identidades nacionais.
O sociólogo alemão Walter Benjamim (1892-1940) já dizia que a arte de comunicar experiências estava ameaçada de extinção, com lamentável perda para a educação. As experiências são contadas pelos mais velhos aos mais novos, que passam o dom de narrar as experiências de um lugar, de um momento ou de uma situação. Uma experiência do passado pode revelar o que somos e como poderemos ser no futuro.
Tradição mineira
O sociólogo carioca Tristão de Athayde escreveu um livro intitulado “A voz de Minas” (1945), no qual observou a forma tradicional de vida dos mineiros, e dai, a longevidade; ausência da ociosidade e, por isso, esbeltos na forma física; comedidos na alimentação e no consumo. Uma tradição muito positiva é a de ter fama de ser desconfiado, que vem dos tempos coloniais, em que tinha que ser reservado para não ser explorado por terceiros e pelo Fisco Real.
Alvarenga Peixoto escreveu do exílio, em Angola, à sua esposa Bárbara Heliodora, que tivesse cuidado porque em Minas até as paredes tinham ouvidos. Diante de um desconhecido, o mineiro fica ouvindo e fazendo análise intuitiva da psicologia do forasteiro. Só com o tempo passa a ter confiança nele.
Os mineiros só consomem um produto quando tem certeza de que ele é de boa qualidade. O mercado nacional costuma escolher Minas Gerais para lançar novos produtos. Se houver boa aceitação aqui, é sinal de que o produto está aprovado.
Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da UEMG e UNI-BH. Mestre em História pela PUC-RS
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Edição: Elis Almeida