Minas Gerais

Religiosidade

Em BH, encontro debate resistência de religiões de matriz africana

“ÈGBÉ: NÓS SOMOS” - Evento reúne mais de 500 povos de terreiros

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Encontro reúne povos de terreiro de todo o Brasil - Freepik

Belo Horizonte recebe a terceira edição do ÈGBÉ - Encontro Nacional da Cultura de Povos de Matriz Africana, entre os dias 13 e 16 de junho.  O evento reúne mais de 500 povos de terreiros de todo o Brasil.

As atividades acontecem no Cine Brasil Vallourec e no Sesc Venda Nova, e o tema deste ano é “Nós somos”, que representa um grito de resistência na luta pela igualdade racial e religiosa no país e na América Latina. 

O encontro é uma iniciativa do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileiro (Cenarab), com coordenação geral da Makota Celinha Gonçalves, e também contará, durante os quatro dias de evento, com a presença de pensadores, intelectuais e lideranças do movimento negro. 

Programação

Além do combate ao racismo e à intolerância religiosa, serão debatidos saberes tradicionais, como o uso de folhas e ervas na ritualista afro-religiosa, a juventude dos terreiros,  a diáspora africana, entre outros temas. 

Na sexta-feira (14), todos os ex-ministros da Igualdade Racial se reunirão à atual ministra da pasta, Anielle Franco, em uma mesa de debate que discutirá a conjuntura, o combate ao racismo e a luta pela igualdade racial, sob a mediação do professor e historiador Marcos Cardoso.

Outra presença confirmada é a da escritora, psicóloga e ativista Cida Bento, que cunhou o conceito de “pacto narcísico da branquitude”, para falar sobre a proteção de pessoas brancas a outras pessoas brancas e o compromisso, muitas vezes não verbalizado, em manter viva uma estrutura de privilégios. Ela vai participar da mesa “Vou aprender a ler para ensinar meus camaradas”, que debate educação como forma de resistência, também no dia 14. 

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Outro nome de destaque é o da vice-reitora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Joana Célia dos Passos, que autorizou pela primeira vez que uma estudante se formasse usando uma toga branca. A veste é tradicionalmente preta, mas a estudante Cynthia Luiza Ribeiro do Amaral, que estava se graduando em ciências sociais, cumpria um preceito - espécie de ritualística em religiões de matriz africana onde se cumprem algumas obrigações. 

Além delas, nomes como Bukassa Kabengele, Dulce Pereira, Edelamare Melo, Hédio Silva, Joelzito Araújo, João Pedro Stedile, Sandra Manuel, Sheila Walker e outros estarão presentes. 

Durante todo o evento, acontecerá a Ojá, Feira de Afro empreendedorismo, com estandes de artesanatos, comidas e bebidas. Também estão previstas atividades para as crianças, exposição de fotos, shows e performances artísticas.

Intolerância religiosa

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 55,9% da população se autodeclara negra. Além disso, as religiões de matriz africana Umbanda e Candomblé estão entre as cinco mais praticadas no país. 

Ainda assim, dados do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania apontam um aumento de 140,3% de denúncias de intolerância religiosa contra povos de terreiros entre 2018 e 2023. No mesmo período, o índice de violações, que são formas diversas de violências, cresceu em 240,3%. 

Para os organizadores do evento, os números apontam a urgência de debater a proteção dos povos de terreiro e reafirmar a liberdade religiosa no Brasil, já que o artigo 5º da Constituição Federal diz ser “inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias”.

Confira a programação completa:

13/06, no Cine Theatro Brasil Vallourec 
17h - Mesa 1 - Abertura oficial 
19h - Conferência magna “Do mar que nos separa à ponte que nos liga”


14/06, no Sesc Venda Nova
09h - Mesa 2 - “Dialogando com a promoção da igualdade: a conjuntura, o combate ao racismo e a luta pela Igualdade Racial”
14h - “Vivências - diálogos e saberes ancestrais” . 

15/06, no Sesc Venda Nova
09h - Mesa 3 - “O Oxé de Shangò - Racismo religioso e os Direitos Humanos no Brasil”
14h - “Vivências Diálogos e Saberes Ancestrais”

16/06, no Sesc Venda Nova
12h - Mesa 4 - Plenária Final  e encerramento das atividades 

Serviço:

Os ingressos podem ser retirados presencialmente, na bilheteria do Cine Theatro Brasil Vallourec ou na sede do Cenarab, que fica na rua Desembargador Barcelos 102, Calafate. A entrada é gratuita. 

Edição: Ana Carolina Vasconcelos