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Coluna

Livro reúne artigos sobre educação e direitos humanos em tempos bolsonaristas

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Livro: Educação e Direitos Humanos em Tempos de Resistência - Reprodução
Textos refletem sobre teoria política praticada no calor das batalhas

No recente passado brasileiro, não há dimensão alguma da vida pessoal ou societária, individual ou coletiva, que não tenha sido bafejada ou revolvida pela experiência das políticas de morte estabelecidas entre nós.

Vivemos um longo e tenebroso tempo das hostes bolsonaristas, emergidas das catacumbas de um passado marcado pela violência e pelo genocídio. Rivais da democracia absolvidos, desde há muito, por uma elite escravista e antidemocrática e por uma população inebriada pela fome, pela dor, pela desigualdade e pelas promessas de uma religiosidade que faz loas à morte, faz seu cortejo sob a luz do dia e apresenta seu programa apocalíptico para o mundo.

Da crueldade e da perversidade que se abateram sobre nós, ninguém foi poupado, nem mesmo os nossos algozes. Eles também são reféns de seus próprios medos e de suas sempre insuficientes conquistas.

No entanto, ainda que bafejados pelos odores fétidos das latrinas da história de onde emergiram e acostumados a viver da energia vital roubadas a outrens, nunca é demais lembrar que as ações não atingiram igualmente a todas as pessoas. Longe de uma seleção natural, a doença e a morte, a violência e a dor, tiveram e têm sexo, cor, idade, classe social...  adereços e endereços.

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Não há dúvida, hoje, que o Golpe de Estado perpetrado pelas nossas elites em 2016 funcionou como uma senha de acesso que autorizou o retorno à cena pública de um conjunto de forças que, até então, agia às escondidas e no sigilo da noite.

O que aconteceu de 2018 para cá se coloca numa longa fila de atos genocidas, patrocinados pelo próprio Estado, a qual foi inaugurada com a chegada dos primeiros invasores destas terras ocupadas, e protegidas, ancestralmente, pelos povos originários. Parte das elites ficou assustada com o monstro que havia cevado e apresentado como a salvação da pátria, o que não as redime da responsabilidade.

Neste cenário apocalíptico não poderiam faltar, é evidente, ataques às políticas de garantias do Estado Democrático de Direito e de proteção às pessoas que, historicamente, foram vulnerabilizadas social, cultural e economicamente. Foram essas, sem dúvidas, as que mais sofreram sob o império dos homens de bem que tomaram de assalto a República.

Defensores de direitos humanos

Foi para fazer frente à realidade marcada pela violência e o caos que, mais uma vez, se levantaram, unidas, as forças daquelas pessoas que sempre estiveram nas trincheiras em defesa do Estado Democrático de Direito, das Políticas Públicas e dos Direitos Humanos. A luta desigual, travada nos mais diversos territórios físicos e virtuais, foi um momento épico de nossas histórias e, dele, vamos nos lembrar para sempre.

Dentre aqueles que se levantaram e disseram, “eu vou”, há que se destacar, sem dúvida, as pessoas que lutaram e lutam pelos Direitos Humanos entre nós. Elas, com a autoridade lhes outorgada pela defesa daqueles atributos que nos tornam humanos e com a ousadia trazida pela crença na humanidade, se mostraram, mais uma vez, indispensáveis lutadoras.

Buscando inspiração em nossas melhores tradições e ancestralidades para defender as justas causas, ao mesmo tempo que buscavam inventar novos modos de ação, reinventando-se a si mesmas no percurso, pessoas se reuniram em coletivos e, desses, fizeram, mais uma vez, estratégia de sobrevivência e de ação.

Em muitos casos, a única ação possível era o abraço, a consternação solidária, a palavra amiga.

Em tempos como os que vivemos, palavrear a morte é, sem dúvida, uma das formas mais profundas de defender a vida digna para todas as pessoas. Noutros, a ação defensiva dos Direitos Humanos tomou as ruas e os espaços virtuais. Ninguém solta a mão de ninguém! E, assim, foram formadas barreiras de proteção.

Mas mesmo no interior da noite mais escura é preciso acreditar que há de amanhecer! Trabalho de poetas, profetas e todas as pessoas de bem, o anúncio de boas novas é também fonte de acalento e de esperança.

É um pouco disso tudo que trata o livro Educação e Direitos Humanos em tempos de resistência (Editora Fi, 2024), organizado por um coletivo que, durante 4 anos, ocupou as páginas do jornal Pensar a Educação em Pauta com uma coluna sobre o tema.

Teoria e política ou, se preferirem, teoria política praticada e inventada no calor das batalhas, os textos nele expostos trazem a marca da perplexidade, do adoecimento, da compaixão, da ternura, da indignação, do desânimo e das esperanças de um grupo de pessoas que, em meio ao desmoronamento do mundo, ousaram resistir e criar em defesa dos Direitos Humanos no Brasil.

No conjunto, que poder-se-á perceber desde os primeiros textos, há apropriação de teorias oriundas das mais diversas áreas do conhecimento e sobre as múltiplas dimensões da vida pessoal e societária, apropriadas com a sensibilidade e a responsabilidade que o momento exigia e impunha. Mas há também, como se verá, criação de ideias novas, de deslocamentos de sentidos e descobertas de veredas nunca antes percorridas.

Num mundo marcado por urgências, em que cada dia amanhecia sob as mais sombrias ameaças, houve, e há, muita ousadia para manter funcionando uma coluna de jornal produzida de maneira partilhada e responsável.

Foi, e é, uma aposta de vida em defesa das vidas de todas as populações humanas e não humanas que habitam os nossos territórios. É isso que os textos que compõem o livro me transmitiram e é isso que desejo que eles transmitam a cada pessoa que a eles puderem acessar!

Luciano Mendes de Faria Filho é pedagogo, doutor em Educação e professor titular da UFMG. Publicou, dentre outros, “Uma brasiliana para a América Hispânica – a editora Fondo de Cultura Econômica e a intelectualidade brasileira” (Paco Editorial, 2021)

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Leia outros artigos sobre educação e literatura na coluna Cidades das letras: Literatura e Educação no Brasil de Fato MG

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

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Este texto, com algumas poucas alterações foi publicado como Prefácio ao livro Educação e Direitos Humanos em Tempos de Resistência, que o leitor pode baixar gratuitamente em editorafi.org

Edição: Elis Almeida