Minas Gerais

Coluna

As consequências do negacionismo em um contexto de emergência climática

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Foto: Rafa Neddermeyer - Agência Brasil
O ato de negar postulados científicos é muito antigo

Negacionismo é um termo novo, que surgiu no século XX, mas o ato de negar postulados científicos é muito antigo. As religiões tinham receio de que as concepções fixadas pela fé fossem substituídas pelo conhecimento científico. O melhor exemplo é o do monge italiano Jerônimo Savanarola (1452-1498), que destruía obras de arte e livros que não tivessem conteúdos religiosos.

No passado, grandes cientistas foram perseguidos e negados, a exemplo do astrônomo Galileu Galilei, de Isaac Newton, do naturalista e geólogo Charles Darwin, e do criador da psicanálise Sigmund Freud. 

Por outro lado, a Igreja Católica foi a primeira a aceitar como válido o conhecimento científico, em especial com o advento da Companhia de Jesus, que fundou e manteve universidades.

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Além disso, foram e continuam sendo muito importantes as bibliotecas mantidas pela Igreja, que conservaram e preservaram livros raros. Contudo, a verdade científica, ao contrário da dogmática, não dura para sempre, podendo ser derrubada por outra verdade científica, comprovada por experimentos reconhecidos internacionalmente.

Na atualidade, o negacionismo pode até usar velhos preceitos religiosos como argumento, mas, na verdade, tem caráter político conservador. A história está repleta desses fatos.

Em 1904, no limiar da República, ocorreu no Brasil, um boato de que quem tomasse a vacina contra varíola tomaria a aparência de vaca. Com isso, o povo se revoltou contra a ordem do governo de vacinar toda a população.

A resistência partia da ala monarquista, que tinha forte poder de comunicação contra o governo republicano. Este havia tomado medidas de higiene e prevenção contra doenças, proibindo que animais como vacas, cães, porcos e cabras ficassem soltos pelas ruas das cidades. Isso contrariava os interesses dos proprietários.

Consequências da atualidade

As bancadas ruralistas e evangélicas votaram em massa pela deposição de Dilma Rousseff em 2016. Um dos primeiros atos de Michel Temer como Presidente da República foi o de permitir que ruralistas ocupassem terras indígenas e as desmatassem para criação de gado.

Antes de tomar posse como presidente eleito, em 2018, um repórter perguntou a Bolsonaro se ele iria manter as decisões de Michel Temer sobre terras indígenas e a política de meio ambiente. Ele respondeu: “sou defensor do meio ambiente, mas desta forma xiita, como acontece, não. Não vou admitir que o Ibama saia multando a torto e a direito por aí”.

O negacionismo tem caráter político conservador

O comportamento do presidente com relação ao meio ambiente deixou o mundo perplexo. Em seguida à sua posse, manifestou-se contra a conferência do clima em Paris e não permitiu que no ano seguinte a dita conferência viesse a ser realizada no Brasil.

O resultado das resistências ao problema climático e relaxamento dos aparelhos fiscais do meio ambiente permitiu uma avalanche de mineração clandestina e contrabando de metais e pedras preciosas, com gigantesco prejuízo econômico e ecológico para o Brasil.

Na carroceria do bolsonarismo, vieram governadores de estados que colaboram com a reação ao ambientalismo. Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul alterou itens do Código Ambiental do Estado para facilitar investimentos privados, ignorando as previsões científicas.

Da mesma forma, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, nada investiu em prevenção de efeitos de enchentes e nada fez  para melhorar a conduta da população na limpeza da cidade, selecionando e descartando adequadamente o lixo.

Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da UEMG e UNI-BH. Mestre em História pela PUC-RS.

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Este é um artigo de opinião, a visão do autor não necessariamente representa a linha editorial do jornal.

Edição: Ana Carolina Vasconcelos