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O retorno, o agradecimento e os 60 anos do golpe militar no Brasil

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Foto: Reprodução - Memórias Reveladas
Os 'Anos de Chumbo' foram duros para nós progressistas

Um ano e cinco meses após ter escrito meu último artigo para o Brasil de Fato MG sobre “A alta taxa de juros e a autonomia do Banco Central”, venho, aos poucos, retomando a escrita. 

Pois, em pouco mais de um ano, fui diagnosticado com um câncer e ainda estou na luta para vencê-lo, o que falta pouco. Neste artigo, em primeiro lugar, agradeço ao SUS e à equipe do hospital Luxemburgo, desde os médicos do bloco cirúrgico, aos enfermeiros e até as pessoas da limpeza do hospital, que se dedicam, ao máximo, no acolhimento dos que lá se internam. Não vou citar o nome de ninguém, pois cairia na omissão de alguns.

Para não esquecermos

Para não deixarmos de esquecer jamais, escrevo um breve relato sobre os 60 anos do golpe militar, ou “Anos de Chumbo”, como é citado por muitos. Participei da “Passeata dos Estudantes, Artistas, Religiosos e Intelectuais”, que aconteceu no dia 26 de maio de 1976, nas ruas do Centro do Rio de Janeiro. 

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Em agosto daquele ano, eu ingressaria no curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), participando não muito do Diretório Acadêmico (DA), pois começaria a trabalhar à noite na Câmara de Compensação do Banco de Crédito Real de Minas Gerais.

Naquele 26 de maio, porém, ao passar correndo pela avenida Rio Branco, no Centro do Rio de Janeiro, perseguido por um “meganha”(termo utilizado por nós para designar Policiais Militares), em frente ao Banco de Crédito Real, alguns amigos de meu pai, que me conheciam desde pequeno, me viram e me puxaram para dentro, o que não impediu que eu tomasse algumas cacetadas de meu perseguidor.

Nossa democracia continua ameaçada

O fato é que, desde os meus 16 anos, militei clandestinamente no PCdoB, partido perseguido por parte da sociedade e por grupos políticos, que teve vários dos seus membros assassinados.  Em decorrência disso, vários camaradas tombaram, principalmente no Araguaia, na chacina da Lapa, entre outros.

Nesses 60 anos de golpe militar, o que vimos foi a impossibilidade de manifestarmos nossos pensamentos com liberdade. E a maioria daqueles que falam sobre liberdade de expressão são um bando de hipócritas que pedem a volta da ditadura militar no Brasil. 

Sabemos que a extrema direita cresce em várias partes do mundo. O fascismo e o nazifascismo se instala, cada vez mais, nas camadas jovens, que  não viveram a tortura, nem mesmo o desaparecimento de entes queridos.

Ditadura nunca mais

Os 60 anos do golpe geraram uma ditadura civil-militar, que durou 21 anos, em nosso país. Em 1985, esse regime nefasto terminou, mas uma camada grande da população, principalmente aqueles que não viveram esse período, pede o  retorno daquele regime repugnante, no qual os responsáveis pela violação da democracia cometeram crimes bárbaros contra a humanidade, e estão, até hoje, impunes.

Uma camada grande da população pede o  retorno daquele regime repugnante

O golpe de 1964 anulou a Constituição de 1946, tendo ela sido elaborada democraticamente por deputados constituintes eleitos. Nesse contexto, a ditadura extinguiu todos os partidos políticos, impondo a bipartidariedade com a ARENA e o MDB. Ainda, naquela época, Carlos Lacerda, João Goulart e Juscelino Kubistchek formaram a Frente Ampla, logo extinta também pela ditadura.

Os “Anos de Chumbo” foram duros para nós progressistas. O Ato Institucional Número 5 (AI-5) evidenciou o autoritarismo dos militares, de modo que, em 13 de dezembro de 1968,  o “habeas corpus” para a desobediência à opressão e ao arbítrio, considerada como crime, foi extinto. Os DOI-CODIs tinham carta branca para matar.

Meu irmão de coração, amigo e camarada Gildásio Cosenza foi um dos presos e torturados no DOI-CODI do Rio de Janeiro, em 1975. Felizmente, ele sobreviveu e conseguiu contar as atrocidades de outrora.

Essa triste história do Brasil é dolorosa e cheia de sangue. Nossa democracia continua ameaçada. Para ela se tornar ampla, plena e consolidada, precisa transpor o grande desafio de completar uma justiça de transição, que permanece há 40 anos interrompida, esquecida e inacabada.

Ditadura, nunca mais.

 

Antonio Manoel Mendonça de Araujo é professor de Economia, conselheiro do Sindicato dos Economistas de Minas Gerais (Sindecon) e ex-coordenador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED-MG).

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

Edição: Ana Carolina Vasconcelos