Com as privatizações, o preço da água aumenta
O afastamento do projeto de extrema direita no Reino Unido e na França, com a liderança de agrupamentos de esquerda e centro-esquerda, pode ter surpreendido alguns, mas, sem dúvidas, é um alívio para todos que querem um projeto de sociedade fundamentado em parâmetros de direitos sociais e humanos.
Uma das grandes discussões do atual contexto, é a inflação de preços de produtos e serviços. Há vários fatores que influenciam nisso, mas se tratando de saneamento, o preço da água aumentou devido às privatizações realizadas por governos de direita, que seguem a cartilha neoliberal. Agora, os que ainda não reestatizaram, estão prestes a fazê-lo.
Reviravolta na França
O primeiro caso é o da França, que decidiu criar uma empresa pública em 2009, a Eau de Paris, para substituir duas concessões privadas. Durante o período de reestatização, Paris tinha como prefeito Bertrand Delanoë (Parti Socialiste – PS) e o resultado foi evidente: as contas de água baixaram mais de 20%, o controle e a participação popular melhoraram e, atualmente, um dos carros chefes para a propaganda dos Jogos Olímpicos é a despoluição do Rio Sena.
A esquerda francesa não apenas liderou uma grande coalizão contra a extrema direita, mas possui líderes anti-privatistas, como Jean-Luc Mélenchon, que explicitamente batalha para que a água seja um bem comum e não mercadoria. A privatização representa a contramão, quando o assunto é preservação, qualidade do serviço e preço da tarifa de água.
Os que ainda não reestatizaram, estão prestes a fazê-lo
A França agora terá como líderes aqueles que fazem o discurso contra as privatizações, o que foi endossado nas urnas. A teoria e a prática mostram o desastre das privatizações do saneamento, e o povo parece cada vez mais saber disso.
O caso do Reino Unido
Outro caso recente é o do Reino Unido que, com uma vitória histórica, conquistou 410 assentos para o Partido Trabalhista, de centro-esquerda, e a eleição de Keir Starmer como primeiro-ministro britânico.
Assim como na França, a inflação de bens e serviços foi tema das eleições no Reino Unido. O motivo é que o preço das contas de água podem aumentar 40% até 2030, fruto do descontrole da iniciativa privada no saneamento em Londres.
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A empresa Thames Water fez, além de uma má gestão que envolveu paraísos fiscais e excesso de financeirização, uma dívida que chega a 14 bilhões de libras. Como consequência disso, o parlamento começou a discutir abertamente sobre a reestatização do serviço, via nacionalização do saneamento em Londres.
A privatização representa a contramão
Desde de 2023, a imprensa britânica dá sinais de que Keir Starmer será contra a privatização do saneamento. Se essa aposta se confirmar, além da redução do valor da tarifa de água e do aumento da qualidade do serviço, muitos problemas podem ser resolvidos. É possível superar a herança maldita do neoliberalismo de Thatcher, que promove redução de direitos, aumento de preços e a piora na qualidade de vida dos britânicos.
É evidente que as derrotas recentes da extrema direita darão luz a um debate necessário: o mundo caminha para a reestatização dos serviços essenciais, especialmente os países que já sofreram com experiências de privatizações.
O Reino Unido e a França comprovam o desejo da população por políticas públicas pautadas na melhoria da qualidade de vida e no controle popular. O povo apoia líderes, discursos e programas que, além de serem contra as privatizações, apontam a reestatização como caminho, buscando reverter os danos do neoliberalismo, sobretudo para as populações mais pobres. Tudo isso se intensifica quando se trata do bem mais essencial de todos: a água.
Lucas Tonaco é secretário de Comunicação da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU) e dirigente do Sindágua-MG
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Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Ana Carolina Vasconcelos