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O dente siso deixará de existir?

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15% da população não tem dente siso

Dentes são ótimas fontes de estudo para os paleontólogos, por serem partes dos animais que se preservam bem no registro fóssil. Com os dentes humanos não é diferente. Os evolucionistas têm no estudo desses órgãos um bom material para traçar nossa história evolutiva.

Seres humanos modernos têm duas dentições. A primeira, composta por 20 dentes, está presente na infância. Os dentes de leite surgem no primeiro ano de vida. E começam a cair por volta dos 6 anos de idade, processo que dura até a pré-adolescência.

Já a segunda dentição começa a surgir por volta dos 6 anos, e estará quase completa na adolescência, com os 28 dentes definitivos. Disse “quase” porque ainda temos os 4 terceiros molares, os famosos sisos, que aparecem já na vida adulta, entre os 18 e os 25 anos.

Você já parou para pensar o porquê disso? Em termos evolutivos, uma característica só se mantém na população se traz alguma vantagem para os indivíduos, uma maior sobrevivência e/ou sucesso reprodutivo. Qual vantagem evolutiva os sisos nos proporcionaram no passado?

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Imagine que nossos antepassados, os primeiros humanos, viviam aproximadamente 30 anos. E, antes do domínio do fogo e da agricultura, se alimentavam de coisas cruas, bem mais duras do que os atuais alimentos que a culinária nos proporcionou. Por isso, dentes fortes, principalmente molares e pré-molares, eram super importantes.

E, lembre-se também que os dentistas ainda não tinham se estabelecido bem ali na savana africana de 100 mil anos atrás. Ou seja, nossos ancestrais deviam perder alguns dentes ao longo de suas breves vidas. Seja por cáries, seja por lesões.

Assim, fazia sentido o surgimento de quatro molares extras, que caberiam bem na boca já sem alguns dentes, e que seriam bastante úteis para a parte final de suas vidas.

Hoje, nada disso faz sentido. Cozinhamos nossos alimentos. Escovamos os dentes e vamos ao dentista. Vivemos 70, 80 anos. Quando os sisos nascem, na grande maioria das vezes não há espaço na boca para que eles se instalem. O que faz com que muitos de nós, humanos modernos, precisem retirar cirurgicamente esses órgãos, que não nos farão grande falta.

Então, isso significa que os humanos do futuro deixarão de ter sisos? Isso só acontecerá se representar uma desvantagem em termos evolutivos. Pessoas que naturalmente não têm siso (cerca de 15% da população) têm mais sucesso reprodutivo ou sobrevivem mais? Não! Portanto, provavelmente, os humanos do futuro ainda terão que lidar com o crescimento dos terceiros molares.

Um abraço e até a próxima!

Renan Santos é professor de biologia da Rede Estadual de Educação de Minas Gerais

Edição: Elis Almeida