Minas Gerais

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Rede Minas: uma emissora a serviço da doutrinação religiosa e da violência de gênero?

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Danizinha Protetora - Reprodução/ Instagram
A iniciativa de Zema não pode ser tolerada

Por Luciano Mendes

A nova programação da Rede Minas que estreia hoje, segunda-feira (22), ao lado de novidades no campo do jornalismo, da cobertura dos esportes e outras, há também estreia na programação infantil. A matéria na página da emissora informa que:

“Para somar às manhãs, a criançada tem espaço de honra na TV. Desenhos animados preenchem a programação das 8h às 11h. Entre atrações, destaque para Danizinha Protetora. A garotinha e sua turma têm, como propósito, proteger as crianças contra as ameaças que podem tirá-las da sua infância. Ela encarna a defensora dos valores cristãos e ensina a importância da confiança em Deus e como reconhecer situações que podem comprometer seu bem-estar”.

Aí fui lá no Instagram me informar sobre quem seria a Danizinha Protetora e encontrei, dentre outras, pérolas como esta postagem de 2022:

“Deus planejou a vida de cada um de nós, seus filhos, desde a fundação do mundo! Ele nos conheceu ainda quando éramos substância informe no ventre de nossa mãe! Quer tenhamos nascido meninos ou meninas, nascemos para a glória de Deus e o inimigo almeja macular esta verdade!

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Para trazer informação sobre esse importante assunto preparamos um presente para você: uma linda cartilha digital totalmente grátis lançando luz sobre um assunto que está prejudicando muito nossas crianças: a Ideologia de Gênero. Proteja as crianças!”

A imagem que acompanha a postagem não deixa dúvida sobre o “damarismo” abraçado: menino veste azul e menina veste rosa, ora pois!

Que o Estado brasileiro, em todas as suas esferas e poderes, jamais foi laico, todo mundo sabe; que sempre fez proselitismo cristão-católico, inclusive por meio do calendário oficial religioso católico, ninguém duvida. Não é, por acaso, pois, os enormes problemas que ontem e hoje isto tem nos causado.

A nossa leniência societária com os abusos e com as violências trazidas pela ausência da laicidade do Estado, fez-nos chegar à situação de um chefe de Estado dizer, recentemente, que “não tem essa historinha de Estado laico não. O Estado é cristão e a minoria que for contra, que se mude”.

A iniciativa de Zema e seus asseclas, apesar de fazer parte de uma longa e tenebrosa história, não pode ser tolerada.

Temos de nos mobilizar, como muitos grupos e colegas já têm feito, para fazer frente a mais esse descalabro e a todas as tentativas de tornar oficiais, em Minas Gerais e no Brasil, as violências de gênero, raciais e outras, assim como o proselitismo e a doutrinação religiosa nas mídias oficiais do Estado (pouco) Democrático (e ainda) de Direito.

Luciano Mendes de Faria Filho é pedagogo, doutor em Educação e professor titular da UFMG. Publicou, dentre outros, “Uma brasiliana para a América Hispânica – a editora Fondo de Cultura Econômica e a intelectualidade brasileira” (Paco Editorial, 2021)

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Edição: Elis Almeida