Minas Gerais

ELEIÇÕES MUNICIPAIS

Capoeiristas de BH lançam carta de proposições em busca de melhores condições de atuação

Documento cita a implementação do Dia Municipal da Capoeira e a instituição de programas de incentivo

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Lançamento do documento aconteceu no Mercado Novo, no dia 17 de julho - Foto: Rafael Lazzarotto

Esporte se encontra à margem das políticas públicas

Atentos às eleições municipais de 2024,  dezenas de mestres, professores e alunos de capoeira, em Belo Horizonte, construíram uma carta de proposições que reivindica à Prefeitura de BH e aos pré-candidatos ao executivo a solução de diversas demandas de capoeiristas.

Segundo a comunidade, o esporte ainda se encontra à margem das políticas públicas, e, em alguns casos, como na educação, vem sofrendo com o racismo de tipo estrutural e religioso. Um dos idealizadores do documento, o professor Dimas Antônio de Souza, contramestre de capoeira em BH, explica as principais demandas contidas na proposta.

 

“Nós temos profissionais de capoeira que estão na escola integrada ganhando um salário mínimo por 44 horas semanais. Nós queremos equiparação salarial com os professores. Nós queremos que os meninos que estão no socioeducativo sejam conduzidos para capoeira mediante bolsa, para que os grupos possam receber para tratar desses meninos. Queremos criar o bolsa capoeira aos moldes do bolsa atleta, para que os praticantes de capoeira, jovens, negros, da periferia, que queiram se profissionalizar na arte, possam fazer”, aponta. 

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Além das ações descritas, a carta de proposições também prevê a cessão de imóveis sem utilização da PBH para a implantação de projetos socioculturais, a implementação do Dia Municipal da Capoeira e a instituição do Programa de Incentivo para as Rodas de Capoeira abertas ao público. 

A relevância da capoeira em MG

Raimundo Ferreira de Sousa, o Mestre Ray, que também participou da construção da proposta, aponta que o documento também expressa a relevância sociocultural da capoeira em BH. 

“BH é uma grande exportadora de capoeiristas para o resto do mundo. A capoeira mineira é a responsável pelo desenvolvimento da capoeira em toda América Latina. É daqui que saem os grandes mestres que levam a capoeira para o resto do mundo”, conta. 

O professor Dimas argumenta, ainda, que, enquanto arte marcial dotada de um conjunto de práticas diferenciadas, a capoeira constroi, especialmente nos jovens, uma perspectiva de solidariedade, fraternidade, cidadania e respeito. 

“Ela [a capoeira] tem sido usada por nós, pelos grupos de capoeira, como forma de socialização. Como forma de tirar o jovem da droga, do tráfico. Então ela tem uma função enorme na cidade e nós que gostamos da capoeira fazemos com amor. Por isso que a prática ainda está viva, mas falta incentivo em Belo Horizonte”, comenta. 

Raimundo também acredita que para que a capoeira evolua em BH é preciso de mais incentivo, sobretudo no que se refere ao apoio jurídico e cultural para os mestres, que ocupam as  principais posições da arte marcial. 

“Esse é um grande desafio: fazer o incentivo chegar na ponta da lança, que são os mestres. É com eles que transformamos a sociedade, transformamos os cidadãos. E a capoeira vai ser melhor quando o capoeirista for melhor”, sublinha. 

Simplificação dos processos

Para a capoeirista e gestora pública Rosângela da Silva, outro desafio recorrente enfrentado por mestras e mestres de capoeira na cidade é a dificuldade no acesso aos editais de cultura, que, por serem complexos demais, acabam não abrangendo muitas pessoas. O tópico também é uma das reivindicações do documento. 

“A gente precisa simplificar formatos de maneira que agregue e que essas pessoas, e grupos, e a capoeira como um todo consiga adentrar e obter os recursos”, reforça. 

A gestora também cita que a Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) hoje dedica 33% de seus recursos para mestres e mestras da cultura popular, mas que é necessário construir formas de orientação e letramento para a realização dos cadastros, que muitas vezes envolvem a criação de CNPJ e estruturação de projetos. 

“São desafios pontuais que exigem um trabalho conjunto da sociedade, por parte da iniciativa do legislativo e da iniciativa do poder público municipal. Embora tenha uma série de editais, o acesso ainda está restrito”, critica. 
 

Edição: Elis Almeida