Após 5 anos e meio do crime da Vale em Brumadinho, o Rio Paraopeba ainda não está livre dos rejeitos tóxicos derramados pelo rompimento da barragem. A projeção da Aecom, empresa responsável pela auditoria do Plano de Recuperação Socioambiental de responsabilidade da mineradora, era de que fossem retirados os rejeitos de 54 km do rio até o final de 2024, mas a meta está longe de ser concluída.
Segundo estimativas, se mantida a tendência atual, a dragagem de apenas 2 km do rio está prevista para ser realizada até maio de 2025. De acordo com os últimos dados totais, divulgados em fevereiro pela Aecom, a Vale havia retirado, até o primeiro trimestre deste ano, apenas 1% da limpeza planejada para 2024.
“A retirada lenta e pouco eficiente dos rejeitos pode potencializar ainda mais os danos socioambientais do rompimento. Por isso, o prolongamento dessa situação, além dos prejuízos ambientais, implica também na insegurança hídrica e alimentar para essas populações e no risco à saúde humana. As pessoas se sentem permanentemente ameaçadas nas suas diversas relações com o rio e com os usos da água”, aponta Carla Wstane, diretora do Instituto Guaicuy.
Segundo ela, as comunidades estão esperando respostas para sentir que estão tendo seus modos de vida devolvidos, e isso deve acontecer a partir do comprometimento por parte do poder público em divulgar os detalhes de todo o processo de recuperação, com a realização de análises contínuas que mostrem a real situação do rio.
Morosidade
A destruição causada pela Vale, além de matar imediatamente 272 pessoas, atingiu territórios que vão muito além de Brumadinho. Foram afetados ao menos 26 municípios. A estimativa do total de atingidos é de, no mínimo, 158 mil pessoas. Todas elas, de alguma forma, vivenciam diariamente as consequências do rompimento da barragem, que também afetam a relação com o Rio Paraopeba.
Segundo Marcelo Barbosa, do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), a arquitetura montada para recuperação do rio foi construída para dar errado, uma vez que a empresa que cometeu o crime é a mesma que diz o que deve ser feito e que também é responsável pelo processo.
“Nos entristece. Já estamos no segundo semestre de 2024. Tem muito tempo de luta das populações para que o Rio Paraopeba fosse recuperado. Mas não nos surpreende que pouquíssimo foi feito pela empresa, pela própria arquitetura da reparação que foi montada, de uma forma que a gente já não concordava há muito tempo. Esse acordo judicial foi construído sem participação popular”, denuncia.
Reparação
A ausência de recuperação do rio também revitimiza os atingidos. Em 2022, por exemplo, as chuvas intensas registradas em Minas Gerais aumentaram o volume do rio e, após a água retornar ao leito, deixou toneladas de rejeitos em ruas e casas. Na época, atingidos que ajudaram a resgatar famílias ilhadas relataram manchas vermelhas e coceiras no corpo, devido à quantidade de substâncias tóxicas presentes na lama.
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Para Guilherme Camponêz, integrante da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a Vale precisa, além de limpar o rio, reparar os danos causados pelos rejeitos presentes nas águas.
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“Paralelo a isso, ela tem que garantir que a população tenha acesso à água. A população depende da água do rio, seja para produzir, seja para consumo humano. Ela [a Vale] precisa fornecer essa água para que as pessoas tenham essas condições. E também a reparação econômica, porque as pessoas dependiam daquela água para pesca, por exemplo. É isso o que estamos cobrando. Estamos organizando a população atingida pra fazer luta para ter a reparação integral”, reforça.
O outro lado
O Brasil de Fato MG procurou a Vale para comentar sobre as denúncias, mas a mineradora não respondeu até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto para manifestações.
Edição: Ana Carolina Vasconcelos