Minas Gerais

Coluna

Redes sociais e violência subjetiva

Imagem de perfil do Colunistaesd
Charge - Nando Motta
Tecnologia deu asas as cobras, ao ódio e às informações falsas

A tecnologia eletrônica colocou à disposição dos indivíduos uma emissora de televisão, por meio dos computadores e telefones celulares. Com sua emissora de televisão, o sujeito pode espalhar mensagens em questão de segundos, e debater com os interlocutores e espectadores.

Isso contribuiu para o incremento da democracia, mas ao mesmo tempo, deu asas às cobras com mensagens de ódio e informações mentirosas, falsas e prejudiciais ao progresso humano; fomentando o atraso e os malefícios para a sociedade.

O exemplo mais claro, dessa danação, foram os seis anos de mandato presidencial de Dilma Roussef que sofreu todos os tipos de calúnia, difamação, denúncias infundadas, culminando com a cassação injusta de seu mandado. Ao mesmo tempo, a plutocracia, classe privilegiada do poder econômico e político, navega no jogo sujo de massacre das minorias subordinadas.

Gilberto Freire, em “Casa Grande e Senzala”, registra que os senhores tinham o direito de amarrar escravos em troncos e açoitá-los, como Debret registrou em um de seus desenhos. Com a Lei Áurea de 1888 perderam esse direito, mas passaram a divulgar que ex-escravos, favelados, índios e desocupados eram “gente perigosa”; que lugar de mulher é na cozinha ou no tanque de lavar roupas. Correntes verbais e panfletos impressos eram distribuídos com calúnias e ataques os pobres.

Tudo isso tem continuidade na atualidade de diversas maneiras. As redes sociais, apenas, os tornaram mais visíveis e imediatos. Ataques a cientistas e universidades públicas negando a crise climática; dizendo que as vacinas é que matam e não os vírus. No dizer de Hannah Arendith, as idéias refletem a banalidade do mal. O ódio pelo outro, pelo diferente, pela opinião divergente. O ódio que muitas vezes se materializa na violência física.

Mídia e valores

A mídia comercial e empresarial, de um modo geral, a serviço do mercado, aguça a ambição de felicidade, de poder, riqueza e prazer, que redundam em causas dos crimes de homicídio, estupros, depredação da natureza, furtos, roubos e estelionatos.

Para Marilena Chauí, quem não se permite ser manipulado pela mídia, é um sujeito ético ativo, aquele que controla interiormente seus impulsos, suas inclinações e suas paixões: discute consigo mesmo  e com os outros o sentido dos valores e dos fins estabelecidos; indaga se devem e como devem ser respeitados ou transgredidos por outros valores existentes.

Sujeito ético passivo é aquele que se deixa governar e arrastar por seus impulsos, inclinações e paixões, pelas circunstâncias, pela boa ou má sorte, pela opinião alheia, pelo medo dos outros, pela vontade de um outro, não exercendo sua própria consciência, vontade, liberdade e responsabilidade;

Em Belo Horizonte, há alguns anos, havia um apresentador de televisão que noticiava crimes. Quando os criminosos eram presos ele sempre terminava a reportagem com o seguinte desafio: “Agora quero ver se os defensores de direitos humanos vão lá protegê-lo”. Desta forma, criou uma imagem de que os defensores de direitos humanos são “protetores de criminosos”. Com isso, o tal apresentador foi eleito senador da República.

Em pleno século XXI, em 2024, 202 anos após a independência do Brasil, a educação pública e privada, propositadamente, contribuiu para excluir socialmente negros, índios e pobres e nada fez para eliminar os preconceitos existentes na nação.

Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da UEMG e UNI-BH. Mestre em História pela PUC-RS.

---

Leia outros artigos de Antônio de Paiva Moura em sua coluna no Brasil de Fato MG

---

Este é um artigo de opinião, a visão do autor não necessariamente representa a linha editorial do jornal.

Edição: Elis Almeida