Em audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), as famílias atingidas pela expansão do metrô de Belo Horizonte reivindicaram um diálogo claro sobre o cronograma de remoções, provocadas pela realização das obras. Os moradores reclamam da falta de transparência e de comunicação da MetrôBH, concessionária do transporte metroviário da capital mineira.
A audiência, realizada na última terça-feira (17), ocorreu a pedido da deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL) e foi o primeiro espaço de diálogo “cara a cara” das famílias com o poder legislativo, o governo de Minas Gerais e a empresa detentora da concessão.
Um dos encaminhamentos da reunião foi o estabelecimento de uma mesa de diálogo, com a participação das famílias e do Ministério das Cidades.
Ainda assim, os moradores saíram do encontro sem uma resposta clara à demanda de um plano de reassentamento. É o que afirma Polliane Cristina Furtado, moradora do bairro Vista Alegre.
“Voltamos, mais uma vez, indignados para nossas casas, com a incerteza de quando isso [o reassentamento] vai acontecer e de qual forma. Não estão nos dando a chance de planejar nosso futuro, de caminhar para frente. Estamos parados no mesmo lugar, há um ano”, disse, ao Brasil de Fato MG.
“Eles não têm data, não têm cronograma para passar para as famílias, não têm previsão”, complementa a liderança comunitária.
Atualmente, a previsão é de que cerca de 350 famílias precisem deixar suas casas. Porém, elas denunciam que a MetrôBH não tem tido uma comunicação clara, em relação ao cronograma de remoção, o que gera insegurança aos moradores. Polliane ressalta ainda a grande implicação que as obras têm tido nas vidas das famílias.
“Desde o ano passado, em setembro de 2023, as famílias tiveram suas casas seladas e foi identificado que seríamos removidos das casas e, desde então, a gente vem sofrendo com a falta de informação”, afirma.
Manifestação no início das obras
Um dia antes, na segunda-feira (16), tiveram início as obras da linha 2 do metrô - que pretende ligar o bairro Nova Suíça ao Barreiro -, em meio a protestos e com a participação de representantes do governo do estado, parlamentares e da empresa responsável.
“O protesto ocorreu devido à falta de informação sobre as remoções. Temos buscado respostas com a MetrôBH e com o governo e, como não as tivemos, decidimos nos convidar para a festa de inauguração, para a qual também não havíamos sido convidados”, explica Polliane.
Segundo Isabella Mendes, integrante do Movimento Brasil Popular, que tem acompanhado o caso, as famílias não são contrárias à obra, mas precisam de garantias.
“Elas compreendem a importância dessa obra para a mobilidade urbana de Belo Horizonte. Então, não é verdade que elas sejam contra a obra. O que elas têm reivindicado, na realidade, é simplesmente um diálogo com a empresa sobre o processo de remoção” , afirma.
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A compreensão de Isabella é reafirmada por Polliane.
“As famílias querem sim o metrô, mas a gente também quer se beneficiar dessa obra. Para isso, precisamos morar próximos e não ser enxotados das nossas casas e jogados para qualquer canto”, destaca a atingida.
Indenização insuficiente
Outra crítica levantada é em relação ao baixo valor previsto para as indenizações a serem pagas às pessoas removidas. A empresa se programa para desembolsar um total de R$ 28,7 milhões. Dessa forma, o valor médio proposto para cada família é em torno de R$ 89 mil.
“É necessário que, com o valor da indenização, seja possível para essas famílias adquirirem um imóvel na mesma região, ou então, que recebam da empresa um imóvel na região. É o que as famílias têm sintetizado como ‘chave por chave’”, explica Isabella Mendes.
A proposta da empresa é de que as famílias sejam indenizadas somente pelas benfeitorias realizadas nos imóveis, sendo desconsiderado o valor dos terrenos, que foram ocupados irregularmente. Além disso, a MetrôBH defende que as negociações sejam conduzidas individualmente com cada família.
“O interesse das famílias é de que a indenização seja feita de forma coletiva, que seja uma indenização justa e que consigamos comprar um novo imóvel. Eu entrego a minha chave e eles me entregam a chave de uma casa nova, porque aqui nós conquistamos com muita luta. Cada morador tem sua história de conquista e está há vários anos morando aqui”, conclui Polliane Furtado.
O outro lado
A empresa alega que instalou pontos para tirar dúvidas nos bairros que serão atingidos, mas o que os moradores relatam é que as informações fornecidas nesses locais não são claras.
Edição: Ana Carolina Vasconcelos