Lobby empresarial pró privatização domina mídia comercial
Por Lucas Tonaco
Por óbvio, nos grandes conglomerados midiáticos do Brasil, a máxima publicitária por vezes segue: quem paga a banda escolhe a música.
Quando se liga a TV, por exemplo, os grandes telejornais públicos têm uma abordagem padrão sobre saneamaento: palafitas, ruas de terra com esgoto escorrendo, crianças aos lados das ruas e muito lixo - geralmente, esta mesma mídia, sempre procura como referência Think Tanks famosos pelo pensamento “liberal” (privatista) com relação ao saneamento. Como é o caso do Trata Brasil ou mesmo a Abcon Sindcon - conglomerado conhecido por ser um repositório de defesa de interesses privados no Brasil.
O lobby das empresas privadas - que muitas das vezes são anunciantes nesses meios midiáticos – é grande. E o que a população merece é uma perspectiva mais ampla sobre esses assuntos, com uma cobertura menos enviesadas. As mídias comerciais sempre defendem as mesmas teses privatistas. Falta visões acadêmicas, de pesquisadores, estudos científicos ou mesmo outros think tanks com visões contrárias abordagem majoritária de privatizações.
Uma forma de evidenciarmos como a mídia brasileira aborda de maneira muito ruim o saneamento é compararmos a cobertura aqui com coberturas de fora do país.
Recentemente o Deutsche Welle (DW), veículo da Alemanha de grande credibilidade, abordou a privatização da Sabesp em termos muito diferentes do que os jornais brasileiros fizeram.
Fonte: Sabesp privatizada e o exemplo do saneamento de Berlim
Com números, dados, comparativos empíricos, contextualizações e inclusive a procura de especialistas no tema com viés mais científico e menos de “mercado”, a matéria é um exemplo de como se faz jornalismo sobre políticas públicas. Aborda com uma visão crítica sobre o processo a longo prazo.
Para ir além, e citar outro veículo de enorme credibilidade, como é o caso da BBC, onde além de exemplificar o comparativo do que aconteceu com outras capitais, cita também estudos de centros especializados no assunto, como o Instituto Transnacional (TNI) e a Universidade de Glasgow.
Fonte: Por que privatização da Sabesp coloca Brasil na contramão de outros países
Um outro exemplo, é o The Guardian, sobre a catástrofe da privatização do Thames Water, que escutou especialistas, citou estudos e evidências empíricas, e concluiu que a privatização foi um processo ridículo.
Fonte: England’s ludicrous experiment in privatised water is coming to a messy end
Veículos especializados e com abordagens mais densas expõem os absurdos dos processos de privatização que a mídia empresarial esconde, como no artigo abaixo do Le Monde Diplomatique Brasil.
Fonte: Ouro Preto comprova a má gestão de Romeu Zema
Essas são apenas algumas das dezenas de exemplificações sobre a necessidade de uma mídia plural no Brasil, que aborde com seriedade as privatizações e as políticas públicas para o saneamento.
Afinal, a pluralidade de perspectivas é uma característica das mídias democráticas e do acesso de uma sociedade a uma informação menos enviesada e tendenciosa. Precisamos de uma mídia a serviço da democracia, que ofereça informações baseadas na ciência, que contextualizem o assunto.
No Brasil existem veículos de cunho popular, que formam e expressam opiniões à partir dos movimentos sociais, sindicatos e especialistas, sempre contraponto a visão exclusiva do mercado financeiro presente na mídia empresarial, como é o caso do Brasil de Fato e do Observatório dos Direitos à Água e ao Saneamento (Ondas). A mídia empresarial está em simbiose com o mercado financeiro, cujo interesse no saneamento é o lucro, portanto, a favor das privatizações.
Lucas Tonaco é secretário de Comunicação da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU) e dirigente do Sindágua-MG
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Leia outros artigos da coluna Saneamento é Básico no Brasil de Fato MG.
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Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Elis Almeida