Apoiado pelo governador do estado e tendo como vice Luísa Barreto, ex-secretária da gestão de Romeu Zema (Novo), servidores públicos e movimentos populares de Belo Horizonte temem a possibilidade de Mauro Tramonte (Republicanos) chegar à prefeitura da capital mineira. Para eles, a eleição do candidato significaria a intensificação da retirada de direitos da população, das privatizações e do desmonte ambiental.
“Vejo com muita preocupação a possibilidade de um candidato apoiado pelo governo Zema assumir a prefeitura da cidade mais importante do nosso estado. Esse projeto neoliberal não nos interessa”, destaca Eduardo Pereira, diretor da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de Minas Gerais.
Ele relembra que os últimos 5 anos e meio foram duros para os trabalhadores, diante da gestão de Romeu Zema. O servidor da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) explica que o governador administra o Estado como se fosse uma empresa, preocupado com o lucro e tentando, a todo custo, entregar o patrimônio público para a iniciativa privada.
“O projeto dele é destruir as empresas estatais que prestam serviços essenciais, como a Cemig e a Copasa, que são um patrimônio do povo mineiro. Belo Horizonte corre um risco muito sério”, continua Eduardo, que também é presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos do Estado de Minas Gerais (Sindágua-MG).
Aline Lara, enfermeira e servidora pública da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), também teme o avanço das privatizações no município, caso a chapa venha a ser eleita.
“A política de privatizações é uma constante na gestão do Zema, da qual a vice do Tramonte, Luísa, fazia parte até outro dia. Os servidores têm grande receio de que os serviços públicos sejam privatizados. Isso representaria um grande retrocesso, pois os serviços públicos não são mercadoria”, comenta.
“Luísa Barreto é um risco”
Ainda que não seja amplamente conhecida pela população da capital mineira, a vice de Mauro Tramonte possui histórico na política do estado e é “uma velha conhecida dos movimentos populares”, segundo Jairo dos Santos, da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Justamente pela experiência de Luísa Barreto, ele enfatiza que ela representa um risco.
“Ela acha que o Estado não tem que ajudar o povo, mas beneficiar alguns empresários. Luísa Barreto foi uma das que coordenou o leilão de imóveis do governo estadual para a iniciativa privada, enquanto existem milhares de famílias de baixa renda sem moradia. Poderia, por exemplo, ter feito uma parceria com o governo federal para a implementação do Minha Casa Minha Vida (MCMV)”, relembra.
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“Ela foi agente ativa, como secretária de planejamento do governo Zema, do desmonte da Companhia de Habitação Popular (Cohab), que não produz mais nenhum imóvel para famílias de baixa renda. Se não fosse o governo federal, graças a Luísa e outros, o sonho da casa própria para as famílias mais pobres estaria muito mais distante”, continua Jairo.
“Zema é Luísa e Luísa é Tramonte”
Também relembrando o histórico da vice de Mauro Tramonte, Thais Console, da coordenação da campanha Fora Zema, que reúne mais de 200 organizações populares, sindicais e partidárias, destaca o papel de Luísa Barreto na aprovação da Reforma Administrativa, que, na avaliação dela, reduziu a autonomia de setores essenciais do funcionalismo público.
“Foi uma das reformas mais prejudiciais para o estado. Além dos impactos para o funcionalismo, a reforma criou as condições para a desestruturação da mesa de diálogo e negociações com as ocupações urbanas e rurais, em um estado que ocupa o segundo lugar no ranking de déficit habitacional”, afirma.
“Luísa também trabalhou incessantemente pela aprovação do Regime de Recuperação Fiscal (RRF), que coloca em risco a estabilidade de mais de 20 categorias e o patrimônio do povo mineiro”, continua.
Thais também enfatiza o papel cumprido pela gestão de Romeu Zema na privatização do metrô de Belo Horizonte que, após a venda, aumentou a tarifa, demitiu trabalhadores e sofre com constantes problemas técnicos.
“Mesmo não estando na prefeitura, Zema foi o pivô da privatização mais desastrosa da nossa cidade, impedindo o avanço de um sistema de mobilidade urbana sério e eficaz. Zema é Luísa e Luísa é Tramonte. Nós temos memória. As pessoas que estão prometendo um futuro promissor não querem se responsabilizar com o passado. A chapa de Tramonte nada mais representa do que a velha política do atraso e do desmonte”, conclui.
Meio ambiente ameaçado
Outra contradição do governo Zema, a qual os trabalhadores e movimentos sociais temem chegar à prefeitura caso Mauro Tramonte seja eleito, é o desmonte ambiental. O governador é amplamente criticado por ambientalistas pela flexibilização da legislação, facilitando o avanço de empreendimentos nocivos ao meio ambiente, em especial a mineração.
Isabella Mendes, do Movimento Brasil Popular, relembra que a relação de Romeu Zema com as mineradoras é tão profunda que, durante a sua gestão, até mesmo o cartão postal da capital mineira, a Serra do Curral, ficou constantemente ameaçado.
“Eleger um prefeito apoiado por Zema seria um erro muito grande. O governador sempre foi uma das grandes ameaças à Serra do Curral, por exemplo, que, além de um patrimônio histórico e cultural da nossa cidade, é fundamental para o abastecimento hídrico de BH. Ou seja, nos coloca em risco de ficar sem água”, destaca.
“Recentemente, ele [Zema] concedeu licença para uma mineradora que tem 17 acusações de crime ambiental atuar na região. Ter em BH um prefeito aliado do Zema abriria caminhos para mais devastação”, continua Isabella.
Privilégio para poucos
Outra marca da gestão de Romeu Zema, na avaliação de Jefferson Leandro, diretor do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética (Sindieletro-MG), é o privilégio para poucos, enquanto a maioria da população é desassistida.
“Zema quer fortalecer a política neoliberal, por isso, disputa a eleição de BH. A chapa de Tramonte e Luísa é um perigo para BH. Além do sucateamento das estatais e dos serviços públicos, o Novo tem uma política de beneficiamento e privilégio dos seus aliados, que degradam o ambiente e exploram os trabalhadores”, alerta.
Edição: Elis Almeida