Quem se enrola na bandeira de Israel não pode ser patriota
A extrema direita, há mais de um século, vem reagindo ao progresso humano. O discurso retórico tem sido o de buscar em mitos do passado, citados em textos bíblicos. Além disso, recorre a postulados científicos não aprovados pela comunidade internacional para expor teses racistas, como fez o brasileiro Nina Rodrigues, afirmando que a raça negra era propicia ao crime. Os nazistas quiseram provar a superioridade da raça branca ariana. Essa falsa premissa motivou o extermínio de muitos milhões de outras etnias.
Para o filósofo americano, professor Jason Stanley, no livro “Como funciona o fascismo”, a defesa do passado patriarcal representa o conceito de hierarquia necessária a todo governante autoritário, na figura do pai, como os velhos patriarcas e mitos. Na busca de adeptos, os líderes misturam concepções religiosas e políticas. Podemos dizer que isso resulta em um sincretismo ideológico.
Cristianismo é comunhão e partilha
O cristianismo, que hoje vem sendo utilizado como meio de conquistar a população, sempre foi diferente e até oposto ao judaísmo, com seu mito do rei Salomão. Que foi um rei rico e avarento, que mantinha em seu reduto, mais de 700 mulheres como esposas, concubinas e escravas. A luxúria e a avareza, para ele, eram graças de Deus.
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O cristianismo navegou em sentido contrário ao individualismo. A igreja cristã vem de Eclésia, assembleia onde se pratica a comunhão; uns irmãos amparando os outros. A sabedoria humanista de São Paulo é infinitamente superior à do rei Salomão. Na religião judaica não há nenhuma figura como a de são Francisco de Assis.
Logo se vê que o cristianismo significou a primeira mentalidade moderna. Esse sincretismo judaico-cristão é ao mesmo tempo, ingenuidade e má-fé.
É ridículo como pessoas se enrolam em bandeira de Israel, em manifestações pro Bolsonaro e, contraditoriamente, se confessam patriotas brasileiros. Dizem admirar o rei Salomão por sua sabedoria, mas negam conhecimentos científicos que comprovam que o planeta Terra é redondo, porque em livro antigo de Israel, consta que a Terra é plana. Negam conhecimento cientifico que alerta sobre o perigo do aquecimento global e efeito estufa. Contestam a social democracia e os valores culturais humanistas, conquistados na segunda metade do século XX. Advogam a militarização do ensino para que os educandos não tenham acesso ao saber crítico e progressista. E, por fim, recorrem a uma antiga ideologia do patriotismo fanático.
Nos períodos ditatoriais os mandatários buscam no passado o mito do verde-amarelismo como forma de fanatizar as massas. Recorrem ao conteúdo do velho livro do Conde Afonso Celso, “Porque me ufano de meu país”, passando a idéia de um país harmonioso, sem preconceitos e de belezas naturais encantadoras.
A extrema direita busca fazer esquecer e encobrir a pobreza, o analfabetismo e as epidemias.
Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da UEMG e UNI-BH. Mestre em História pela PUC-RS.
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Este é um artigo de opinião, a visão do autor não necessariamente representa a linha editorial do jornal.
Edição: Elis Almeida