Em um cenário de possível vitória de Mauro Tramonte (Republicanos) ou Bruno Engler (PL) para a Prefeitura de Belo Horizonte, o impacto será negativo para a população da capital mineira, segundo especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato MG.
Uma pesquisa da Quaest, divulgada na segunda-feira (30), aponta que os dois candidatos estão à frente na corrida eleitoral. Enquanto Tramonte aparece na liderança, com 27% das intenções de voto, Engler aparece na sequência, com 21%, empatado na margem de erro com Fuad Noman (PSD), candidato à reeleição, com 20%.
“A vitória de qualquer um dos dois é uma derrota de projetos vinculados a pauta sociais, em prol de projetos vinculados à pauta do mercado”, disse Luiza Aikawa, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher (Nepem), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Com atuações semelhantes na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) em seus mandatos como deputados estaduais, Bruno Engler se destaca como parte de uma direita conservadora, enquanto Mauro Tramonte segue por viés liberal, lembra a especialista.
“Um dos pontos importantes é justamente a questão da pauta da moral e dos costumes. Engler, que é do partido do ex-presidente Bolsonaro, está mais vinculado ao que a gente se acostumou a ouvir, como ‘ideologia de gênero’”, observa.
Se o candidato do PL for eleito, segundo Luiza, a população pode esperar retrocessos no que tange a ações afirmativas e que buscam consolidar os direitos da população LGBTI+, negra e das mulheres.
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Disputa de projetos
Cientista político e professor da UFMG, Leonardo Avritzer acredita que, diante da vitória de qualquer um dos dois, Belo Horizonte terá uma administração diferente.
“Engler pode ser a primeira administração que realmente coloca o problema da exclusão das minorias, de uma homofobia mais explícita, seja nas políticas educacionais, seja em algumas outras políticas importantes. No caso do Tramonte, tudo indica que vai ser uma gestão mais fraca”, detalha.
Servidores públicos e movimentos populares da cidade acreditam que, com uma possível chegada de Tramonte à PBH, haverá intensificação na retirada de direitos, privatizações e desmonte ambiental, algo que faz parte do projeto de Romeu Zema (Novo), um dos apoiadores do candidato. Essa ideia é reforçada pela presença de Luísa Barreto, ex-secretária de gestão do governador, como vice.
Leonardo Avritzer pondera, no entanto, que, diferente do estado, a situação financeira de Belo Horizonte é mais “controlada” e, portanto, Tramonte poderia assumir a mesma postura do governador diante dos servidores por ideologia, mas não com a justificativa de que busca equilibrar as contas.
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“Romeu Zema teve uma política errática em relação ao funcionalismo, tentando reajustar apenas os recursos de um setor de elite e não reajustar do outro. A capacidade de pressão do funcionalismo municipal sobre a prefeitura será, provavelmente, muito maior”, destacou.
Luiza Aikawa alerta, porém, que a não valorização dos serviços e dos servidores públicos não é uma característica exclusiva de Tramonte.
“O Bruno Engler, inclusive, é o único dos dois que é membro da comissão de privatização da ALMG”, sinaliza.
Crescimento da direita
O cenário no qual Belo Horizonte está imersa nas eleições municipais de 2024 chama a atenção de ambos os pesquisadores. Luiza considera a expressão de Engler e Tramonte um dado significativo para pensar as preferências da população belo-horizontina, que é disputada pelo setor mais à direita do espectro político.
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“Eles [Engler e Tramonte] defendem o avanço de políticas de favorecimento do mercado privado, em detrimento de políticas voltadas para a justiça social e para a defesa das populações mais vulneráveis", ressalta.
Para Leonardo, BH tem se envolvido na direção do conservadorismo, principalmente ao considerar os resultados eleitorais anteriores na cidade, nos quais Jair Bolsonaro venceu em 2018 e 2022.
“Tudo indica que existe um movimento conservador em Belo Horizonte”, realça.
Edição: Ana Carolina Vasconcelos