Quem defende a democracia deve defender a soberania popular
Por: Cleiton Donizete Corrêa Tereza
Esse será um final de semana muito importante para o nosso país, pois teremos a realização das eleições municipais. De forma democrática, todos os cidadãos brasileiros, em dia com suas obrigações, poderão comparecer às sessões eleitorais e digitar nas urnas eletrônicas suas opções, contribuindo para definir os rumos do Brasil.
Saúde, moradia, emprego, transportes, assistência social... e claro, educação, são áreas cujas políticas públicas dependem de escolhas conscientes. Cada voto é relevante para construirmos o futuro da nossa sociedade! Portanto, temos muito para comemorar nessa festa democrática!
Os parágrafos acima é um tipo de jargão comum na mídia tradicional brasileira, conduzida especialmente por famílias endinheiradas e seus financiadores empresariais. Entretanto, esse discurso superficial dos meios de comunicação da burguesia, que enaltecem a democracia liberal, é uma meia verdade.
Realmente, as eleições municipais representam um momento significativo e é preciso votar com responsabilidade.
Porém, diante das limitações impostas pelos interesses capitalistas, que dificultam as possibilidades de compreensão e ações transformadoras, em grande parte, as eleições para definir administradores e legisladores, constitui um momento de um jogo em que as questões mais relevantes, estruturais, não devem ser modificadas. Basta observar como aguerridos de outrora mudam seus discursos, abandonam princípios e costuram alianças até então impensáveis.
A construção dessa democracia que temos, que verdadeiramente é pouco democrática, se deu por meio de enfrentamentos históricos, mas ainda é tacanha, injusta demais!
Isto posto, faço um convite para que possamos analisar melhor a situação, com sinceridade, neste último panfleto antes das eleições. Desejo uma boa leitura!
Desconfiança no povo
Existe nessa democracia, liderada pela burguesia, pelos ricos e, portanto, longe de ser democrática de fato, uma eterna desconfiança no povo. E pior, fazem de tudo para que o povo não tenha condições de se desenvolver culturalmente, intelectualmente, como poderia. Para tanto, precarizam as escolas, reduzem o ingresso ao ensino superior de qualidade, restringem condições de acesso a produções culturais significativas.
Essa elite gananciosa segue tirando tudo que pode do povo, explorando-o, e não convive nos mesmos espaços que ele. Eles frequentam outros lugares para comer, passar férias, praticar esportes, ficando entre os seus, mas servidos por nós. E com frequência debocham, dizendo que são diferenciados!
Nestas eleições, temos por todo país candidatos de direita – e entendo aqueles, do dito centrão, como de direita, afinal, não se opõem às armações que geram os reais problemas; mas também alguns que se dizem de esquerda – que, como a própria população sabe, só circulam pelas ruas a cada quatro anos. Menosprezam o potencial do povo!
Querem o poder para eles, a riqueza para eles, os holofotes para eles, dizendo que são os únicos capazes de fazer o melhor para a população, como se o povo emancipado não tivesse condições de dizer o que é melhor para si.
E quem é o povo do qual tanto falamos?
Somos nós trabalhadores, que atuamos nas mais diversas áreas: na limpeza, na construção civil, no comércio, nos transportes, nos serviços públicos, nas lavouras, na prestação de serviços. O povo constrói os municípios, gera riquezas por meio do trabalho. O povo é o central! Mas fazem de tudo para tirar essa nossa posição, todos os dias.
Eles dizem: quem tem razão são os empresários, os turistas, os consumidores, os engravatados, os proprietários. Isso não é certo! É colocar o mundo de ponta-cabeça, e, infelizmente, muita gente termina acreditando. Chegam a usar da fé das pessoas para perpetuar as desigualdades!
Todas aqueles, sejam pessoas, instituições ou movimentos, que realmente defendem a democracia, devem defender uma soberania popular radical. Isso não quer dizer extremismo, agressividade gratuita, ou algo do tipo. Quer dizer o esforço de enxergar e buscar resolver os problemas pela raiz, com a sociedade envolvida, o tempo todo. Os agressores são aqueles com sorrisos falsos, cheios de dar tapinhas nas costas, enquanto tiram nossos direitos e reduzem nossos salários.
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Você concorda que existem muitos políticos que gostam de maquiagens, de esconder os reais problemas, fingir, manipular, desviar a atenção?
Pois é, não podemos fazer parte disso. Precisamos dizer da realidade como ela é. E lutarmos por medidas revolucionárias! Há quem diga que isso seja um sonho. Que bom! Já parou para pensar que uma série de prerrogativas que defendemos hoje, nem sempre garantidas, como creche para as crianças, atendimento médico ou décimo terceiro salário, no passado não existiam? Quem conquistou isso? As pessoas que sonharam! E essa imaginação política precisa vir acompanhado de estudo e organização constantes.
E para chegarmos nas condições que desejamos e merecemos, para que exista de verdade justiça, por onde podemos começar? Podemos começar pela educação!
Mas será mesmo possível que uma educação gestada no interior de uma sociedade burguesa, no contexto capitalista, poderá conseguir contribuir para superá-la? Não há outra alternativa. É o que a história nos mostra. Precisamos lembrar da permanência das contradições. As realidades e suas expressões em leis, governos, concepções culturais, comportamentos, tecnologias, foram gestadas no interior do que existia anteriormente.
Nós sabemos, com base em nossos mestres pensadores da educação e da política, que sozinha a educação não será capaz de garantir a sobreposição deste estado de coisas que degradam o meio ambiente, a saúde mental, a integridade dos corpos, a possibilidade inventiva e realizadora da humanidade, contudo, a educação, enquanto processo de humanização, é vital para a democracia popular que ainda precisamos construir.
Hoje, com toda desfaçatez, aproveitadores desacreditam do povo o tempo todo, levando muita gente a desacreditar de si mesma, de suas relações, da força das comunidades e do potencial da solidariedade.
Mas temos que seguir contrapondo... e afirmando: “não desacredita não!”
Cleiton Donizete Corrêa Tereza é professor de História nas redes municipal e estadual em Poços de Caldas, especialista em História Contemporânea (PUC Minas), especialista em Planejamento, Implementação e Gestão de Educação a Distância (UFF), mestre e doutor em Ciências Humanas (Diversitas-FFLCH-USP), integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Administração Escolar (GEPAE-USP), membro do Coletivo Educação de Poços de Caldas e da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Elis Almeida