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ARTIGO

Nova composição da Câmara Municipal de Belo Horizonte: análise e perspectivas

Direita tradicional não perdeu terreno, a esquerda ganhou força e a extrema-direita mostrou poder de mobilização

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Foto: - Câmara Municipal de BH

A recente eleição para a Câmara Municipal de Belo Horizonte trouxe mudanças significativas no cenário político local, reforçando dinâmicas já conhecidas e apresentando novas forças que merecem atenção. A expressiva votação de alguns candidatos, a manutenção de famílias tradicionais na política e o avanço da esquerda configuram um cenário plural e desafiador para os próximos anos.

A consolidação do PL e a força de Nikolas Ferreira

O Partido Liberal (PL), impulsionado pela popularidade de Nikolas Ferreira, concentrou recursos e apoio em um único nome, Pablo Almeida. O resultado foi impressionante: Pablo se tornou o novo recordista de votos da história da cidade, alavancando outros candidatos do partido, como Vile, Uner e Sargento Jalyson. Com isso, o PL garantiu uma presença robusta na Câmara, consolidando um bloco de extrema-direita com potencial de influência.

A reafirmação das elites tradicionais

A nova composição também confirmou a permanência das tradicionais elites políticas de BH. As famílias Aro, Borja e Portela mantiveram suas cadeiras, representadas por Marli Aro, Flávia Borja e Marilda Portela, respectivamente. A força familiar na política local ainda mostra ser um fator de peso.

O crescimento da causa animal

Outro ponto que merece destaque é o crescimento da causa animal na cidade. Dois candidatos que defendem a causa foram eleitos: Osvaldo e Lucas Ganem. A expressividade de seus votos reflete o engajamento crescente da população em torno do tema.

Zema e o Novo: continuidade e manutenção de força

O partido Novo conseguiu reeleger seus três representantes: Fernanda Altoé e Marcela Trópia, que juntas somaram quase 40 mil votos, o que garantiu a reeleição de Bráulio Lara. Com isso, o Novo mantém sua posição estratégica na Câmara, consolidando um bloco coeso e alinhado com as pautas do governador Zema.

A esquerda mais forte e expressiva

Os partidos de esquerda saíram fortalecidos, tanto pelo aumento do número de cadeiras quanto pela expressividade dos votos. PT, PCdoB e PV formaram uma bancada liderada por Pedro Rousseff, seguido por Luiza Dulci e Bruno Pedralva, com este último se destacando pela conexão com os movimentos populares e a força de uma campanha verdadeiramente popular. Wagner e Edmar Branco também obtiveram votações expressivas, confirmando a força regionalizada de suas campanhas.

A última cadeira esteve em disputa até o fim, com Luana de Souza, ligada aos povos de terreiro, e Pedro Patrus, tentando a reeleição. É importante lembrar que Pedro não foi eleito na última legislatura e assumiu como suplente após a renúncia de Sônia Lansky. Nesta eleição, a estratégia de campanha do candidato explorou fortemente a imagem do pai, Patrus Ananias, o que garantiu, no fim, a última vaga para a família. Houve um protagonismo maior do Patrus nessa campanha do que em pleitos anteriores, fato que certamente influenciou no resultado.

O protagonismo do PSOL

As candidatas do PSOL se destacaram. Iza Lourença, um fênomemo, ultrapassou o recorde de votos da histórica Áurea Carolina, enquanto Cida Falabella conseguiu triplicar a votação em relação ao último pleito. Jhulia, a primeira mulher quilombola e travesti do Partido Socialismo e Liberdade eleita para a Câmara de BH, apostando em vídeos que destacavam seu lugar de fala e contando com o apoio de figuras como Erica Hilton e Duda Salabert.

Apesar desse sucesso, o partido não conseguiu eleger Maria da Consolação, nome forte da ala sindical e articuladora do partido. Jozeli, apoiada por Bella Gonçalves, também teve uma boa votação, mas não conseguiu alcançar uma cadeira. No campo progressista ainda foi eleito Helton Junior do PSD.

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Os meus candidatos nesta eleição foram Luana de Souza, do PT, e Gilson Reis, do PCdoB. A vitória de Luana, com mais de 6 mil votos, foi um marco para uma mulher negra e jovem que conduziu uma campanha sem grandes recursos ou apadrinhamento político. Ela enfrentou a intolerância religiosa de frente, assumindo sua fé na Umbanda e promovendo uma campanha inclusiva e propositiva. Gilson, por sua vez, é um quadro político combativo e comprometido principalmente com as causas ambientais, mas sua candidatura reflete um dilema maior: a dificuldade de seu partido em se adequar às novas pautas emergentes, o que requer uma reflexão urgente.

Conclusão: uma Câmara mais dividida e plural

A nova configuração da Câmara mostra que a direita tradicional não perdeu terreno, a esquerda ganhou força e a extrema-direita demonstrou seu poder de mobilização, elegendo o candidato mais votado da história.

Os próximos anos exigirão mais energia, união e alinhamento entre as forças progressistas para enfrentar os desafios que virão. Será preciso construir pontes e fortalecer coalizões para avançar nas pautas que melhor atendam a sociedade. Espero que os partidos compreendam a magnitude dessa nova conjuntura e se alinhem para essa jornada.

Luara Colpa é advogada

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Este é um artigo de opinião, a visão da autora não necessariamente corresponde a linha editorial do jornal

Edição: Elis Almeida